Estudo recente da consultoria McKinsey elencou dez lições que o mundo deveria ter aprendido nos dois primeiros anos da pandemia da COVID-19. O estudo traz, para além da síntese dos principais pontos debatidos ao longo desses dois anos, diretrizes que não podem ser abandonadas e/ou que precisam ser cobradas dos gestores públicos e da sociedade.
Pouco se avançou em termos humanitários nessa pandemia e muito ainda precisa ser construído para que saúde, economia e educação harmonizem-se e criem riqueza e prosperidade para todas Nações. As dez lições listadas pela McKinsey deveriam ser mantras para sociedades, gestores públicos, empresários e líderes em geral.
A primeira lição afirma que “as doenças infecciosas são um problema de toda sociedade”. Impactos indiretos ainda têm causado profundos danos, donde destacam-se:
- (i) adiamento dos cuidados preventivos e rotineiros da saúde individual;
- (ii) sobrecarga do sistema de saúde;
- (iii) crescimento da fadiga e da saúde mental;
- (iv) lacuna educacional sofrida sobremaneira pelas crianças mais pobres;
- e (v) consequências econômicas ainda persistentes como desemprego e reduzida diversidade da atividade econômica, em estágios e ritmos diferentes ao longo do mundo.
- (i) adiamento dos cuidados preventivos e rotineiros da saúde individual;
- (ii) sobrecarga do sistema de saúde;
- (iii) crescimento da fadiga e da saúde mental;
- (iv) lacuna educacional sofrida sobremaneira pelas crianças mais pobres;
- e (v) consequências econômicas ainda persistentes como desemprego e reduzida diversidade da atividade econômica, em estágios e ritmos diferentes ao longo do mundo.
Outra lição diz respeito à “mudança no paradigma das vacinas”: o mundo presenciou o desenvolvimento de número expressivo de vacinas de alta qualidade, em tempo recorde. Entretanto, a eficiência na produção de vacina e sua distribuição equitativa aponta para a exigência de mudanças sistêmicas: os países em desenvolvimento não podem ficar fora desse processo.
O desafio que se apresenta é a necessidade urgente de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), bem como da endogeneização da tecnologia e da produção para todos os países. A questão esbarra na limitação econômica, geradora do ciclo autoalimentado de dependência externa dos países menos desenvolvidos, associada à falta de capacidade de desenvolvimento científico e tecnológico, apesar de vários países já estarem dedicando mais recursos para o combate às pandemias e ao desenvolvimento de pesquisas.
Enquanto nos países menos desenvolvidos vive-se o desafio de implantar estrutura de pesquisa e desenvolvimento (P&D), no mundo como um todo, o ceticismo de parte da população em relação às vacinas tem fragilizado a confiança na política pública de saúde e na condução dos governos. Daí origina-se a lição da “confiança como uma das mais delicadas exigências no combate à pandemia”. Construir pactos sociais de confiança em relação à área biomédica e as políticas de saúde pública são fundamentais para a eficácia no combate às pandemias.
Do pacto de confiança emerge outra lição: “as políticas governamentais importam, mas em determinadas circunstâncias o comportamento individual importa ainda mais”. A recusa de parcela expressiva da população mundial em se vacinar tornou-se uma das causas dos novos espraiamentos do vírus e da maior demora em combate-lo.
Do lado da economia, a lição mais rápida que todos puderam apreender foi que “estímulos econômicos funcionam somente com fortes medidas de saúde pública”: a economia não caminha sem a saúde e vice-versa e a pandemia deixou isso bem claro.
Sobre o mercado de trabalho, também se sabe que “o trabalho nunca mais será o mesmo: a pandemia provou que:
- (i) há nova definição para trabalhadores essenciais;
- (ii) número e tipo de trabalho que precisamos é bem diferente atualmente;
-(iii) trabalhadores com melhores formações e conhecimento podem, em sua maioria, exercer suas atividades de casa.
Empregados e empregadores veem as relações de trabalho de forma diferente atualmente, gerando um questionamento profundo sobre as formas e relações de trabalho.
- (i) há nova definição para trabalhadores essenciais;
- (ii) número e tipo de trabalho que precisamos é bem diferente atualmente;
-(iii) trabalhadores com melhores formações e conhecimento podem, em sua maioria, exercer suas atividades de casa.
Empregados e empregadores veem as relações de trabalho de forma diferente atualmente, gerando um questionamento profundo sobre as formas e relações de trabalho.
Até ontem, 04/4, o Brasil registrou trinta milhões de casos de COVID-19, desde o início da pandemia. Esse resultado está mascarando a subnotificação dos primeiros meses da doença, bem como os casos não declarados e assintomáticos. Desse total, 660.381 foram a óbito, segundo maior registro em termos absolutos no mundo. No início da pandemia, construímos um estudo, na Fundação João Pinheiro, com alguns cenários de morte por COVID-19. Na avaliação de alguns críticos à época, fomos considerados pessimistas por definirmos 2% como um cenário realista. Erramos na temporalidade, mas não no alcance.
Desde julho de 2020, ainda no início da pandemia, o governo federal tomou a decisão de interromper a divulgação diária dos dados sobre COVID-19. De lá para cá, desinformações e estratégias de desencorajar a população a se vacinar, a usar máscara e manter o distanciamento social foram combatidas pelas esferas estadual e municipal. Em meio a ceticismos sanitários, aumentou-se o risco de desinformação e adiamento no sistema vacinal de imunização. Ainda segundo o estudo da McKinsey, “o risco de voltarmos a viver situação similar a essa relaciona-se diretamente ao tipo de instituições e investimentos que estabelecermos a partir de agora”.
Há tempo que as relações humanas têm dado motivos para desesperança. No início da pandemia, muitos foram os que acreditaram que vivíamos oportunidade para reflexão e mudança. Eu me incluía nesse grupo. Em meio à pandemia, o mundo tem vivenciado a derrubada do regime “democrático” de Myanmar, as ofensivas na Síria, o abandono do povo do Afeganistão a toda sorte de privações e violências dos talibãs e, mais recentemente, a guerra (“conflito” só para quem quer minimizar a sangria humana) na Ucrânia.
Será necessária perseverança para que o mundo realmente aprenda as lições da COVID-19. Por enquanto, prevalece a sensação de fim do novo normal, com guerras, fome, desemprego e êxodos humanos por todos os cantos do mundo.