A finitude da vida está posta, mas não encaramos com sabedoria que vida e morte se entrelaçam eternamente. Nem somos capazes de entender que a maternidade é eterna, ser mãe é eterno. A maternidade é uma condição que contraria a finitude da vida. E tem sido sob a perspectiva da maternidade que tudo está mudando abruptamente na minha vida.
Há cerca de um mês, fui diagnóstica com linfoma folicular grau 2. Trata-se de um linfoma que tem processo lento de “desenvolvimento”, traz possibilidade de longevidade maior, embora com chances de cura da ordem de 9%. Peço aos meus médicos, Dr Evandro Fagundes da Hematologica (Belo Horizonte) e Dr Vanderson Rocha da Rede D’Or-OncoStar (São Paulo) que perdoem meu relato impreciso e, provavelmente, falho.
Na verdade, o que importa é o significado de que, em menos de dois meses, uma vida de quase 55 anos tenha sido pega no contrapé. O que importa é que o corpo revelou um adoecimento que a mente negou. O que mais importa é que, apesar de eu exercer, com maestria, a arte de superar adversidades e seguir forte, bem-humorada e cheia de vida, meu corpo não seguiu, na mesma velocidade que a mente, os desafios colocados pela vida! O corpo adoeceu.
Inúmeras são as razões para isso ter acontecido. Cabe a mim elaborar os significados, a partir desse diagnóstico e da nova vida que se (re)inicia. Certamente, o instinto de sobrevivência materno para continuar acompanhando o caminhar dos meus filhos é o nutriente mais importante nessa jornada. A atenção agora está voltada para a pulsão de vida revelada pela maternidade e entrelaçada com a mente ativa e cheia de vida para escutar, acolher e tratar desse corpo adoecido.
Em dois meses, fui submetida a batelada de exames, cirurgia, apreensão com resultados, além da maratona de consultas. Mas, foi às vésperas da cirurgia que a ficha começou a cair. Lembro-me, no bloco cirúrgico, com os olhos cheios d’água e voz embargada, que perguntei para o cirurgião Dr Luiz Gonzaga se eu estaria com câncer. Em seguida afirmei que “tinha dois filhos que dependiam de mim”, como se naquele momento isso fosse o passaporte para o não adoecimento, a condição divina e misericordiosa para a salvação, ou a seleção natural para sobreviver.
Com o privilégio de ter feito uma viagem especial com os filhos, logo após o diagnóstico da doença, gozei de dias inesquecíveis, repletos de diversão, afeto, cuidados, muito amor e carinho.
Descobri que meus filhos sabem, tão hábil e cuidadosamente, olhar por mim; que tudo de melhor que plantei como mãe veio multiplicado em forma de generosos filho e filha; que filhos também têm amor incondicional - aquele que só mães e pais regozijam-se de exclusividade! -; que dar gargalhadas no café da manhã e no parque de diversões é das melhores lembranças das férias com filhos; que ao longo da vida, embora eu pouco tenha brincado com meus filhos, sempre lhes proporcionei muita diversão e, por essa razão, entrar em um brinquedo 4D e gritar tanto ou mais que eles foi o melhor reencontro que tive com suas infâncias. Revivi e me nutri!
Em menos de um mês, descobri que mesmo na concretude da finitude, o amor de mãe é capaz de acreditar que a maternidade não tem limite e, assim, acordar, a cada novo dia, e pensar que aquilo que eu puder deixar para meus filhos será a história plantada e enraizada em suas trajetórias.
A todas as mães, eu desejo que o amor pelos filhos seja abundante e transcendente ao ponto deles entenderem que a mãe estará viva atemporal e infinitamente em suas vidas.
Essa coluna é dedicada aos meus filhos, Mathias e Valentina - os maiores e melhores motivos para eu acreditar que minha luta para engrossar os 9% que curam será vencedora! A eles devo o sentido dessa data e a gratidão por fazerem-me sentir a mãe mais privilegiada e orgulhosa do mundo!
Que todas as mães que me deram a honra de gastar alguns minutos desse dia lendo essas linhas também sintam-se tão privilegiadas quanto eu.
Feliz dia! Feliz vida! Feliz e eterno maternar!