Jornal Estado de Minas

CLÍNICA MÉDICA

A triste história do exame negativo no Natal

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As festas de final de ano são locais perfeitos para fomentar os programas de comédia e dramas da vida real. São os famosos jargões: 

- E os namoradinhos?
- Como você cresceu?
- Nossa, na minha época e do seu pai…
- Sinceramente nunca vi um doce melhor que esse…
- É Pavê ou Pácome?

É “Pá passa ou Pá pega” coronavírus?

Julia* é muito organizada e marcou seu exame de COVID-19 para segunda-feira, dia 21 de dezembro. Ela não gosta de nada de última hora. Seu resultado saiu na quarta dia 23 - negativo!

Sexta de manhã já estava tomando café com sua família lá no interior. Tios, Dona Totonha*, a vovó de 92 anos, primos, amigos de infância. 





Conseguiu ficar com seus familiares até a virada do ano - nada melhor que o carinho dos familiares para recarregar as energias e começar 2021 com pé direito.

Dia 5 de Janeiro, Júlia recebeu a notícia no WhatsApp da família que o seu tio Edu está com uma gripe forte e não poderá acompanhar a Vó Totonha que está internada no hospital da cidade, com o diagnóstico de COVID-19.

Júlia comenta que achou esquisito a diarréia que teve no dia 31 e que sentiu um cansaço diferente quando chegou de viagem, mas que já estava bem melhor.

A Vovó Totonha faleceu no dia de Reis.

Ainda que não possamos anotar a placa do vírus para seguir seus passos, podemos refletir que Júlia fez o teste na segunda e de posse do teste negativo participou da roda de amigos  e amigo oculto da empresa antes da viagem para o interior. 

Quando ela fez o teste realmente não estava contaminada e não apresentava sintomas, porém durante o resto da semana ficou mais livre, mais tranquila e mais exposta.

Se contaminou após o exame e quando estava com sua família era o período crítico para contaminação de outras pessoas. Tanto o tio quanto a avó apresentaram sintomas após 5 a 7 dias de infecção.





Preocupad,a Júlia realizou novo teste que também veio negativo, assim como o primeiro o segundo também praticou um desserviço pois já estava fora do período de viremia, que é a presença do vírus no corpo, dando a falsa impressão de que nunca teve contato com o coronavírus.

Tenha certeza que não há forma fácil de se proteger ou tapear a COVID-19, se houvesse nós já estaríamos fazendo. Uma sugestão para aqueles que desejam muito fazer o exame para se tranquilizar nas festas e aglomerações que vão inevitavelmente acontecendo:

Todos os participantes devem testar, e são necessários dois testes. Todos devem se manter em isolamento no intervalo entre os dois testes.

Todos devem fazer o primeiro teste, aguardar 14 dias em isolamento absoluto e realizar novo teste. Esses dois testes conseguem aumentar a qualidade da coleta e aumentam a segurança para contaminações e doenças ainda incipientes. 





O isolamento e os protocolos são realmente difíceis de executar. Eu sei, estamos cansados, temos medo, tristeza e saudade, mas não é justificativa para inventar moda agora.

Apesar dos números e da pandemia terem se naturalizado, devemos nos lembrar o motivo das medidas de precaução.

No Brasil há 6 milhões e 728 mil casos e quase 180 mil mortes, não venha me falar dos quase 6 milhões de recuperados, porque nesta guerra devemos sim nos preocupar mais com os doentes e mortos do que com os casos leves. 

Vários estudiosos já haviam anunciado que o estar preparado para a pandemia seria estar apto a conseguir tratar seus doentes e também ampliar e reduzir o trânsito de pessoas de maneira rápida e menos caótica, exatamente para conseguir bloquear aumentos como o que estamos vivendo.





Nas últimas semanas, o Brasil está batendo recordes de crescimento, com alta de mortes em 21 estados - estamos falando do retorno de quase mil mortos por dia. Isso é muito! Um aumento de mais de 34%. Foram 54 mil casos confirmados em 24 horas.

A situação é grave. Não se iluda achando que seu exame negativo é um passaporte de tranquilidade para poder abraçar e beijar seus entes queridos. Exames devem ser interpretados à luz do conhecimento e individualidade de cada situação.

Não há profilaxia ou tratamento precoce A vacina está chegando, mas não chegou. A solução para a pandemia se chama: vacina e tratamento eficaz e não somente testes.

O nosso inimigo oculto deste ano tem cara, jeito e nome, conhecido por coronavírus. Você precisa entender que pouquíssimas estratégias serão eficientes para você comemorar seu Natal tranquilamente, e cá entre nós, acreditar em Papai Noel é melhor que acreditar nas estratégias de exames para festas de Natal.

*Nomes fictícios

Tem alguma dúvida ou gostaria de sugerir um tema? Escreva pra mim: ericksongontijo@gmail.com 






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