Quase 450 mil mortos! O Brasil ocupa a segunda posição em números de mortos no mundo - está abaixo apenas dos Estados Unidos e acima da Índia, que tem sido reportada em um estado caótico. No último dia 20, falei a uma rádio americana - NPR (National Public Radio) - sobre o sentimento dos profissionais de saúde que estão na linha de frente, em relação aos desdobramentos da CPI. A CPI, infelizmente, não mudará quase nada no nosso enfrentamento contra a COVID-19.
Tão acompanhada quanto um grande festival musical, a CPI está sendo transmitida ao vivo e todos seus comentaristas mandam perguntas e tweets, em tempo real. O mundo vive uma velocidade de informações espantosa, mas as ferramentas que nós temos para mudanças ainda não atendem às nossas expectativas.
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) é uma investigação conduzida pelo Poder Legislativo que serve para discutir, ouvir depoimentos e tomar informações diretamente a respeito de um assunto, com base no interesse público. Não se faz justiça em uma CPI, se faz esclarecimentos.
Como se trata de uma análise retrospectiva de alocação de recursos e tomadas de decisão, não irá mudar o número de mortos que temos, a dificuldade que era maior no início da pandemia, a escassez de recursos, a falta de equipamentos de proteção, a angústia da indecisão e das dúvidas ou o desafio de aprender fazendo.
Os políticos do nosso país são representantes do povo e devemos sim aprender sobre quem vamos escolher para nos representar, uma vez que são responsáveis por tomar decisões que, como podemos ver nessa pandemia, irão impactar até mesmo em âmbito global.
A CPI se transformou em um teatro para ampliar a visibilidade de vários personagens políticos do Brasil. Sem julgar qual lado é melhor, mas não podemos esquecer que estamos há um ano e meio da corrida presidencial brasileira. Em vários momentos, a CPI se parece uma "briga de galera" (como costumava chamar na minha adolescência). O pessoal da rua de trás ou a galera do outro colégio que se encontravam para medir força, como se os territórios não pudessem ser divididos e teriam que ter um dono.
Infelizmente, no Brasil ainda temos vários currais eleitorais. Lembram-se de tudo que lemos nas aulas de história? Tenho certeza que você pensava assim: mas como essas pessoas pensavam assim? Nossa, será que isso realmente aconteceu? Onde eles estavam com a cabeça?
Meus amigos, estamos no meio de uma pandemia, há pessoas sem máscaras, há quem acredite em tratamento precoce, tratamento milagroso, tem gente fazendo carreata (e o pior: passeata), há gente pedindo retorno da ditadura e tortura. Vemos de tudo.
Isso a CPI não muda, o mal caratismo. Mas, afinal, o que muda? A CPI não muda quase nada, porém pode ser um ponto de reflexão sobre democracia e quem nós queremos assinando os cheques das contas públicas nacionais. Ser político é poder tomar decisões em nome de uma nação, e será que isso está sendo realmente feito com seriedade?
E o que nós, da saúde, da pesquisa e da linha de frente, queremos? Paz, tranquilidade, felicidade, saúde e vacinas. Os profissionais que estão diariamente nesse enfrentamento não pensam em vingança. Nós tratamos todos sem distinção, então a fala sobre "fazer justiça" não nos diz respeito. Nós buscamos melhores condições para nossos pacientes - eles são a nossa rotina e realidade.
Sobre as quase 3,5 milhões de vidas perdidas e quase meio milhão, somente no Brasil, não há CPI que as traga de volta. Para as noites em claro, para as crises de pânico, para o cansaço, não há político preso que compense.
O desafio de levar felicidade, tratamento e mudar o curso da vida das pessoas continua sendo nosso, e isso a CPI não muda quase nada. Para os espectadores do show pirotécnico da CPI, por favor, no dia da premiação das urnas não dêem o Oscar para os melhores atores, mas sim para as melhores pessoas. Que seja um reality show que possamos utilizar para colocarmos figurinhas no paredão, sem direito a bate e volta.
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