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ARTIGO

E o Festival Internacional de Arte Negra?

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Muito antes das políticas de promoção à igualdade racial serem implementadas, Belo Horizonte, lá em 1995, saía na frente colocando na rua o maior festival internacional de arte negra da história desse Brasil. Há 28 anos, a prefeitura destinou uma verba para construção desse festival de um milhão de reais. Um festival que proporcionou à população da capital mineira ter acesso aos trabalhos de artistas reconhecidos nacional e internacionalmente. Milton Nascimento, Elza Soares, Luiz Melodia, Tim Maia, Dona Ivone Lara, Itamar Assunção, além de artistas de países como a Uganda, Venezuela, Senegal, Namíbia, Estados Unidos e Burkina Faso fizeram parte da programação da primeira edição do Festival Internacional de Arte Negra (FAN).





Um FAN que a população belo-horizontina merecia e ainda merece. Um festival com verba à altura, com planejamento, profissionalismo, curadoria e comunicação eficientes. Não precisa ser nenhum especialista em eventos para compreender que um Festival requer tempo para que sua curadoria seja feita, afinal os artistas reconhecidos pela qualidade do seu trabalho possuem agendas disputadas, e a burocracia necessária para que haja transparência nos contratos – que são pagos com verba pública – requer um trabalho minucioso. Mas esse festival acontece a cada dois anos e, portanto, é possível haver um planejamento que o tempo seja hábil para entregar um festival melhor a cada biênio. 

Esse ano é ano de FAN, ou deveria ser. A Fundação Municipal de Cultura e a Secretaria abriram um chamamento público para contratar uma Organização da Sociedade Civil (OSC) para realizar o festival. O prazo estipulado para a entrega das propostas era de 17 de abril a 19 de abril de 2023. Isso mesmo, há apenas cinco meses encerrou o prazo para a entrega das propostas das OSCs para um festival que deveria ser feito ainda esse ano. Faltam três meses para o ano acabar e, até hoje, dia 21 de setembro de 2023, a prefeitura não tornou público os nomes que irão fazer a curadoria. Ouvi dizer por fontes não oficiais que o Festival está agendado para ser realizado na segunda quinzena de outubro e que, mesmo ainda não tendo sido publicado no Diário Oficial do Município, sete pessoas foram convidadas há algumas semanas para fazerem a curadoria. Ou seja, se essa informação procede, serão sete pessoas fazendo em tempo recorde o impossível de colocar um festival internacional de arte à disposição do público.

Essa falta de organização, planejamento e gestão de tempo só coloca em evidência o descaso da prefeitura e do prefeito com as artes negras e, consequentemente, com os artistas. É nítido que a alta hierarquia da gestão municipal é composta por pessoas brancas, mas é sempre bom ressaltar que a população do município é formada, em sua maioria, por pessoas negras, e mais uma vez essa equipe de servidores estão deixando muito, mas muito a desejar. É fundamental que a curadoria escolhida para fazer esse trabalho tão necessário tenha condições para realmente curar o FAN. Tenha suporte, tempo e verba necessários para escolher e agendar com os artistas e propor atrações à altura da primeira edição. É fundamental que não tenham que entregar um trabalho tão importante em poucas semanas em razão da falta de profissionalismo da gestão feita pela Eliane Parreiras, que está à frente da secretaria ao lado do Gabriel Portela, da presidente Luciana Rocha Féres e da diretora de políticas de festivais, Marta Guerra. 

Seria muito cômodo e simplista, depois de um festival mal feito, mal divulgado e com uma programação com os artistas disponíveis – e não os desejados –, criticar uma curadoria que, faltando um mês para a data do festival ser realizado, ainda sequer foi tornada pública aos munícipes da cidade.

Fuad Noman, e o Festival Internacional de Arte Negra? Agoniza, mas não morre? Responde aí, todo mundo quer saber.