Um estudo muito interessante foi publicado recentemente. Os autores avaliaram o efeito do uso de estatinas e outros fármacos que reduzem o colesterol LDL-C (chamado de colesterol ruim, que causa infarto e derrame) em 322.153 pacientes que já tinham apresentado manifestação de doença aterosclerótica cardiovascular. Esses pacientes tinham uma média de idade de 69 anos, 58,8% homens, participantes do registro americano Cerner Real-World Data, durante um ano de seguimento.
A análise mostrou que 76,1% dos pacientes estavam em uso de estatinas e que somente 39,4% deles faziam uso de estatinas de alta intensidade. Homens receberam estatinas de alta intensidade mais frequentemente que mulheres.Curiosamente, o aumento da idade associou-se a um menor uso de estatinas. Pacientes com doença arterial periférica (obstrução nas artérias das pernas), e com doença cerebrovascular receberam menor prescrição de estatinas de alta intensidade do que aqueles com doença arterial coronária.
No início do acompanhamento, a maioria dos pacientes (61,3%) apresentavam níveis de LDL-C maior ou igual a 70 mg/dl , incluindo 59,8% daqueles com estatinas de baixa - moderada intensidade e 76,1% daqueles sem prescrição de estatinas; somente 45,3% alcançaram a meta de obter um LDL-C menor que 70 após um ano de seguimento.
O uso de outros fármacos hipolipemiantes foi baixo: somente 4,4% receberam ezetimiba, enquanto 0,7%, inibidores da PCSK9 (droga para baixar o colesterol de uso subcutâneo). Entre os pacientes, inicialmente sem estatinas ou com estatinas de baixa ou moderada intensidade ,14,8% e 13,4%, respectivamente, receberam titulação para estatinas de alta intensidade no período de um ano.
Os autores concluíram que, em pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica, a prevenção secundária (prevenção em pacientes que já tiveram um evento vascular) com estatinas de alta intensidade é subutilizada, lamentavelmente, e que a titulação para doses mais vigorosas e mesmo a associação com outros fármacos que baixam o colesterol é incomum. Mulheres, idosos e indivíduos com doença arterial periférica e cerebrovascular são particularmente subtratados.
Esforços com urgência no combate à inércia terapêutica são necessários para aprimorar a prevenção secundária da doença cardiovascular. Apenas a título de informação, os pacientes portadores de doença cardiovascular manifesta, como, infarto e derrame, terão que ter um nível de LDL-C abaixo de 50mg /dl, e são considerados pacientes de altíssimo risco .
Quando, no consultório, fazemos a estratificação de risco do nosso paciente, podemos ter as seguintes respostas; risco muito alto, já comentado. Os de alto risco, esses pacientes têm que ter LDL-C, abaixo de 70 mg /dl. Os de risco intermediário tem que ter o LDL -C abaixo de 100mg/dl. Os de baixo risco têm que ter o LDL-C abaixo de 130mg /dl. Com uma simples tabela de escore de risco cardiovascular (ERG), temos várias outras por sinal, conseguimos dessa forma estimar o quanto tem que ser o LDL-C de cada pessoa.