Conhecer Adélia Prado não é um dever, mas um direito. Ao longo da vida, a negação dessa sabedoria pode causar danos irreversíveis ao vivente, sob o risco de letargia poética ou, na pior das hipóteses, um vexame homérico, a nudez inesperada do rei anunciada pela sinceridade infantil. Afinal de contas, "ser coxo na vida é maldição para homem".
Certos momentos da existência somos pegos de surpresa e não tem como fugir. Nessas situações, o melhor é ficar calado. Assim, as pessoas ao nosso redor manterão a dúvida se estão diante de um sábio ou de um asno. Quando as palavras são ditas, a dúvida, imediatamente, acaba. Talvez seja porque "a palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, e foi inventada para ser calada".
E não há ChatGPT que salve! De plebeu a nobre, de súdito a rei, de cidadão a Governador... Desconhecer algumas coisas não é apenas uma demonstração de ignorância, mas o anúncio de um despreparo vital. Lembro de minha mãe achando que "o estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento".
E sentir não é algo que se compra com o vil metal ou se conquista por maioria de votos. A família pode ser nobre, o enriquecimento de gerações pode ser certo, a fama e o reconhecimento podem chegar por herança, mas sentimento não se herda, muito menos está disponível para download no paraíso da gestão eficiente. Gente que pensa assim gosta mesmo é de cidade administrativa. Já aqueles que nascem com essa "glândula poética do sentir" preferem as vilas contemplativas. Como bons mineiros, adoram observar "as formigas, envelhecendo em paz".
De qualquer jeito, não faço aqui nenhum julgamento. Apenas apresento a tristeza de alguém que vai morrer sem conhecer Adélia, que viveu sem saborear a doçura mineira da poesia. Conhecê-la não é uma obrigação, mas não experimentá-la é a negação de um beneficio espiritual que deveria ser garantido a todos.
No mais, Gerais... Sigamos, pois "a vida é mais tempo alegre do que triste. Melhor é ser".