Jornal Estado de Minas

FILOSOFIA EXPLICADINHA

Esqueça o ChatGPT, nossos alunos pedem algo mais que a tecnologia

 

O rebuliço causado pelo anúncio do ChatGPT foi bonito de se ver. Especialista para todo lado, indústria investindo capital pesado entre os magnatas da economia virtual, gente convencida de que estamos no melhor momento da história e algumas reações apontando para um caminho de prosperidade e sucesso para nossas crianças e jovens. O negócio é tão surreal que, com pouco tempo de vida, o chatogepeto – porque o da história do Pinóquio é bem mais legal, pois vai pela via contrária, tentando humanizar um objeto artificial -  já está na sétima, oitava ou nona versão, sei lá... Parece geração de smartphone.





 

Só que o real, como sempre, veio com seus assaltos. Enquanto estávamos nesse novo-momento-iluminado-da-educação-mundial, nossas escolas eram atacadas com crimes e atentados de toda ordem, ameaças, agressões e, infelizmente, mortes. A realidade, de forma habitual, apontou para outro lado, em oposição às nossas ideações, ilusões e fantasias.

E o problema não está na realidade em si, que não é bonita nem feia, simplesmente é o que é, mas na aposta em um mundo controlado tecnologicamente, mas empobrecido de relações humanas e de investimento no desenvolvimento moral dos indivíduos. Tolos, acreditamos que o domínio técnico impulsionaria o comportamento ético. Erramos feio, erramos rude.

  

Enquanto discutíamos essa nova "era de aquário", a sociedade em rede, incubadora de imbecis, produzia vídeos anunciando massacre em escolas, assustando gestores, familiares, crianças e jovens. Entramos em pânico, pois, sujeitos que não se desenvolveram moralmente no momento oportuno agora brincam com a vida e a morte como se estivessem em uma cadeira gamer, jogando com a finitude como se ela fosse uma brincadeira virtual.





O espanto é que, pelo visto, não aprendemos nada ainda. A saída para esse impasse, acompanhando a discussão nos fóruns apropriados, volta ao mesmo registro tecnológico: câmeras, reconhecimento facial, digitais, chips nos uniformes e controles paralisantes dentro das escolas.   

 

É preciso destacar que o problema não está na tecnologia em si, mas na esperança infértil que nela depositamos como resolvedora de todos os problemas. Questões humanas somente são resolvidas por seres humanos, simples assim.

 

Os colégios, as famílias e os demais espaços de socialização devem ser os mais humanos possíveis, fortalecendo laços como um caminho de educação que nos distancia da barbárie que se instala no horizonte. Nossos jovens já lidam com softwares avançados, jogos e aplicativos, sem nem mesmo aprenderem isso na escola, mas o que eles precisam mesmo é saber sobre relações empáticas, lidar com as frustrações pessoais, resolução de conflitos em comunidade, construção de valores civilizatórios e convivência democrática, habilidades que nos fazem progredir como pessoas e como sociedade.

Na época dos acelerados de vozes do WhatsApp, a escuta paciente, qualificada e honesta de nossos estudantes, entendendo seus desafios no processo de humanização, fará toda diferença na vida dos indivíduos que são confiados a nós.

 

O desespero e o pânico são péssimos professores, pois não ensinam nada a ninguém, apenas retiram a confiança dos jovens em nós, adultos, deixando de ser um porto seguro, exemplos de sobriedade e serenidade.

 

Talvez assim tenhamos uma sociedade mais ética, com mais escuta e menos disputa. Isso, a inteligência artificial não dá conta.