Jornal Estado de Minas

FILOSOFIA EXPLICADINHA

Crianças preparadas para 40 dias na selva ou para chorar sem TikTok?

 

Confesso que o mistério acerca das crianças colombianas perdidas, por quarenta dias, na floresta amazônica me enche de espanto. Os mistérios envolvidos nessa luta pela sobrevivência, com um misto de medo e coragem, povoará meus pensamentos durante muito tempo.





 

Talvez nunca saibamos, de fato, o que aconteceu. Os caminhos percorridos e a escuridão da noite amedrontadora da floresta, com seus perigos naturais e predadores de grande porte, nunca conseguirão ser traduzidos para aqueles que, como nós, só observaram de fora.

No entanto, não paro de pensar na educação dessas crianças, que de perdidas não têm nada. Todas indígenas, provavelmente aprenderam sobre vida e sobrevivência e estão mais preparados para os desafios do novo mundo que as nossas.

 

Certamente, elas não tiveram aulas sobre empreendedorismo, não se interessam pelo novo fervor tecno-pedagógico, não foram expostas às metodologias ativas e não sofrem quando ficam um dia sem acesso ao TikTok.





 

Crianças alfabetizadas para lidar com a vida. A avó definiu muito bem: eles são filhos da floresta. Chama atenção a liderança de Lesly, irmã mais velha, que orientou e cuidou das crianças mais novas, inclusive um bebê com um ano. Esse é um ensinamento que a vida moderna perdeu, mas ainda é muito comum entre as famílias com mais de um filho e que enfrentam os desafios da desigualdade social. 

 

Toda essa história pode ser um grande alerta sobre como estamos educando nossos filhos. Apartados da terra e entregues a um mundo de concreto e plástico, distraídos do real e longe das práticas de cuidado, compensamos a ausência de afeto no consumo desenfreado e os criamos como “órfãos da terra”, mesmo com todo o aparato pedagógico-existencial que compramos para que eles sejam, supostamente, felizes, mas desprovidos de recursos necessários para lidar com a vida.