O mundo não é uma máquina programada para satisfazer nossos desejos. Pelo contrário, se existe algo que caracteriza o real é a capacidade que ele possui de contrariar as vontades de cada vivente, inibir desejos quixotescos e desconsiderar projetos infantis.
Leia Mais
A delicadeza salvará o mundoO 'imbrochável' Bolsonaro deveria consultar o Analista de BagéSão João tem mais significado que a queima de bruxas do HalloweenO que é a felicidade, afinal?15 de julho, Dia do Homem: precisamos diferenciar machismo da masculinidadeElis Regina, entre o artificial e a imortalidadeAlguns, com certeza, lerão as linhas acima como pessimismo. Sem problema. Deve ser o mesmo tipo de gente que acreditou em uma “humanidade melhor após a pandemia”, ou que faz algum ato de assistencialismo barato e posta nas redes sociais #fazer o bem faz bem.
Outros, dotados de maior musculatura cognitiva, entenderão que essa forma de encarar a vida faz parte de um realismo fundamental, atitude que auxilia a suportar o ato de existir que, com seus altos e baixos, se assemelha a visão da lua, entre cheia e minguante.
A roda da fortuna não é conduzida por alguma divindade benevolente, com características paternais. A sorte de cada indivíduo é capitaneada por palhaços bêbados que aliviam o tédio da eternidade brincando com a pobre (e mortal) existência humana.
Momentos de alegria são raros, sobretudo na sociedade produtiva. Por mais que busquemos por eles, geralmente nos chegam de forma aleatória, imitando a borboleta que foge durante a caçada, mas pousa no ombro quando nos distraímos em sua procura. A felicidade opera em uma lógica contrária ao esforço.
Na construção do viver, nos adaptamos às dores produzidas em nosso corpo e em nossa alma. Do choro no nascimento até o último suspiro, sacramentando o final de algum sofrimento patológico, a história nos ensina que é preciso lidar com rupturas, traumas e com a contagem regressiva que nos convida a sepultar sonhos e utopias. A esperança sempre foi o remédio mais barato dos alienados e o instrumento de dominação mais eficiente dos autoritários.
Se a alegria é rara, é preciso se preparar para o sofrimento como um dado muito comum. Por isso, aprendemos que suportar a dor com dignidade já é um grande exercício de sabedoria e paz, pois o ser humano, apesar de tudo, sempre será capaz de amar esse mundo perverso, injusto e horrível.