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Estado de Minas FILOSOFIA EXPLICADINHA

15 de julho, Dia do Homem: precisamos diferenciar machismo da masculinidade

Há um erro na constituição do discurso contemporâneo que considera toda e qualquer atitude masculina como, necessariamente, machista


15/07/2023 11:34 - atualizado 15/07/2023 12:20
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Toda masculinidade é machista?
Toda masculinidade é machista? (foto: https://novaescola.org.br/conteudo/17042/como-o-conceito-tradicional-de-masculinidade-afeta-os-meninos)

   

Há um erro na constituição do discurso contemporâneo que considera toda e qualquer atitude masculina como, necessariamente, machista. A primeira faz parte de uma constituição biológica e simbólica; a segunda apresenta-se como ato que deve ser combatido pela educação e, em muitos casos, pelo rigor da lei.

Essa diferenciação é importante, pois nos afasta do erro que constitui uma das formas mais eficientes de fugir da complexidade do real: colocar a culpa dos males do mundo em um agente único. É bonito xingar o patriarcado, é cool lutar contra a toxicidade masculina e digno exigir paridade salarial e de oportunidades entre os gêneros. No entanto, devemos tomar cuidado para que a generalização, atitude fácil e pouco inteligente, não se instaure em nossas discussões.

 

No Dia do Homem, vamos retomar o pensamento de uma das maiores filósofas existencialistas. Para Simone de Beauvoir, “ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Pensamento óbvio que precisa ser resgatado diariamente, denunciando a burrice em pensar que existe uma espécie de “natureza feminina”. Isto é, nenhum destino social, econômico ou político é capaz de definir o destino de um gênero.

  

O leitor mais desatento pode se perguntar: mas que mal há nisso? Existe natureza sim! No entanto, pense bem. Se existisse um lugar natural para a mulher deveriam supostamente existir trabalhos naturais para o gênero em questão, posições sociais naturalizadas, relações hierárquicas etc. Logicamente, sempre subordinadas ao masculino.

 

Para quem não conhece a filosofia existencialista, extraio a tese principal: não existe natureza humana, pois cada ser tem a liberdade de se construir ao longo da vida, sendo o projeto que fizer de si mesmo. Trata-se da afirmação radical de uma liberdade de se autoconstruir.

 

Como exemplo, pense na coragem. Ninguém nasce corajoso, pois não existe uma caixinha ou uma substância dentro de cada bebê chamada de “a coragem”. Crer nisso é acreditar em um determinismo biológico. O sujeito nasce corajoso e, por isso, comete atos de coragem?

 

Que tal começar a pensar de forma inversa? Ao longo da vida, ao fazer escolhas corajosas, o sujeito se torna corajoso. Bem melhor, não? São as escolhas, as decisões e as ações que formam a coragem dentro de cada indivíduo, e não o contrário.

 

Mas o que isso tem a ver com o Dia do Homem e a discussão entre masculinidade e machismo? Muitas coisas! Primeiro, ao contrário do que os machos inseguros do Red pill, Incel e outros grupos radicais acreditam, não existe uma “masculinidade natural” que justifique algum tipo de supremacia masculina. Força, coragem, lealdade e liderança não são atributos naturais atribuídos a nenhum gênero. A busca pelo “homem verdadeiro” é tão real quanto a eficácia do chá de boldo.

 

Parafraseando a autora, mas fiel à corrente existencialista, ninguém nasce machista: torna-se ao longo da vida. O ato preconceituoso não está naturalizado na “condição masculina”, seja ela biológica ou simbólica que cada homem carrega em seu corpo e em sua educação, mas nas escolhas e decisões que são feitas ao longo da vida, e isso independe do gênero.

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