Jornal Estado de Minas

FILOSOFIA EXPLICADINHA

Pedindo a Deus uma dose de burrice

Criador de todas as coisas, caso se lembre de nós e ainda esteja aí, comendo sua pipoca celestial diante da divina comédia humana, venho, por meio dessa oração, fazer um pedido muito especial: dai-me a graça da ignorância.





 

Sei que pode ser tarde demais para pedir esse tipo de dom, mesmo assim, com muita humildade estou aqui, insistindo. Como és todo poderoso, creio que esse pedido deve ser moleza diante das outras demandas que chegam por aí.

 

São poucas coisas, mas que seriam suficientes para uma vida sem muitas atribulações.

  

Peço o cérebro esvaziado de quem fica o dia inteiro rolando a barra do celular para assistir algum youtuber falando coisas aleatórias e seguir pessoas desconhecidas por meio de algum conglomerado de palermas conectados, vulgo redes sociais.  





 

Venho pedir a segurança incompetente daqueles que acreditam estamos no melhor momento da história, conversando com robôs, trabalhando 20 horas por dia e com remédio suficiente para todos os sofrimentos psíquicos que surgiram a partir desse novo estilo de vida.

 

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Rogo para que me concedas o ouvido infértil dos consumidores de sertanejo universitário e demais “pisadinhas”, com toda sua pobreza melódica, sua indigência estética e sua ausência de vocabulário.

 

Suplico a inocência vislumbrada dos que comem grãos, andam com garrafinha de água, praticam Crossfit e vão de bicicleta para o trabalho, acreditando que isso os fará viver mais tempo que o necessário.





 

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Preciso da infantilidade consumista de quem medita, faz yoga, acredita no poder curativo do origami e segue algum guru-escritor-de-autoajuda na expectativa de que esse será um caminho certeiro para a felicidade

 

Dá-me a ignorância estéril das pessoas que falam em imersão, sonham com uma startup, gostam de brainstorm, fazem benchmarking, pretendem mudar o mindset, vivem em um deadline, acreditam em networking, não saem de casa sem um briefing e vivem à procura de mentoring.

 

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Careço da esperança simplória daqueles que acreditam que irão mudar o mundo, a estrutura social e as relações de gênero a partir de postagens nas redes ou alterando as últimas de letras de algumas palavras.

 

Investido no mais autêntico espírito de porco, espero que assim seja.

 

 Amém!