Jornal Estado de Minas

COLUNA

''Prepare os alunos para amanhã'': A escola e o fascínio pelo futuro


No passado dia 3 de março foi celebrado o Dia Mundial do Futuro. Confesso que não tinha a mínima ideia da existência de tal comemoração. Isso me confirmou, ainda mais, na convicção de que o futuro sempre exerceu uma fascinação extraordinária no ser humano, seja como projeção do desejo de uma vida melhor e mais generosa, seja como fuga da dureza da peleja e sofrimentos do dia a dia.


O futuro foi nos apresentado através da idealização de cidades incríveis, com carros voadores, seres humanos metalizados, realizando viagens interplanetárias e servidos por humanoides e artefatos cibernéticos. Donos e senhores de máquinas, da vida e da morte, com a capacidade de interferir no tempo e nos acontecimentos. Homo Deus?

Entretanto, o que aparecia como um futuro idílico e promessa de felicidade para todos transformou-se, de repente, num cenário distópico e sombrio, povoado de zumbis aterrorizantes, invadido por extraterrestres violentos, ameaçado por pandemias de vírus desconhecidos e desastres ecológicos globais sem precedentes.

Assim, o futuro ficou pendurado na alma humana, provocando incerteza, angústia e medo. Começamos a enxergar que, talvez, o final da era do Antropoceno não esteja tão longe como imaginávamos. E nós, que queríamos tudo, entendemos, finalmente, que tudo não é para sempre, que tudo tem um limite e que todo limite tem um fim.

Interessante observar, como esse assunto sempre esteve presente no radar da literatura e da cinematografia. Quem de nós não conhece autores como Júlio Verne (“20.000 léguas submarinas”, “Da terra à Lua”), Aldous Huxley (“Admirável Mundo Novo”), George Orwell (“1984”) ou Alvin Toffler (“O choque do futuro”, “A terceira Onda”)? Ou não assistiu aos filmes de Robert Zemeckis (de Regresso ao Futuro, o primeiro de 1985), Ridley Scott (“Blade Runner- O Caçador de Androides” de 1982) ou Star Wars (saga criada por George Lucas, em 1977)?

Isso por citar alguns dos mais conhecidos. Capítulo aparte merece o cientista, biólogo, astrofísico, escritor e ativista norte-americano Carl Sagan (1934-1996). Sagan, considerado um dos divulgadores científicos mais influentes da história, é autor de mais de 600 publicações científicas e de mais de vinte livros de ciência e ficção científica, assim como da premiada série televisiva de 1980, “Cosmos: Uma viagem pessoal”.


Voltando dessa viagem e olhando para as escolas e os desafios impostos pela crise da COVID 19, na qual que se misturam passado, presente e futuro, urge se fazer algumas perguntas: Como será a escola e a educação do futuro? É possível preparar agora aos estudantes para o amanhã, ensinando o futuro hoje? E como fazer isso? Quais profissionais serão necessários e qual o seu perfil e profissionalização? Quais as didáticas e metodologias de ensino? Quais serão os cenários e como antecipar-se a eles? Como se preparar para lidar com as variáveis imprevisíveis?

Entendendo a gravidade dessas e outras perguntas, algumas instituições de ensino, gestores, pedagogos, professores, técnicos e outros colaboradores, estão fazendo um esforço hercúleo para formular algumas respostas e se adaptar aos novos tempos.

Destaco aqui duas iniciativas que nos servem como suporte e luz de cara ao assunto que nos ocupa. O Projeto Millenium, criado por iniciativa da ONU pelo seu então Secretário Geral Kofi Annan e atualmente dirigido pelo futurista Jerome Glenn. Além da análise acurada dos 15 desafios globais, todos eles com repercussão direta ou indireta na educação, oferece:


Com o lema, “Prepare os alunos para amanhã. Ensine o futuro hoje”, para a Fundação Teach the Future, fundada em 2018 e dirigida por Peter Bishop, é certo que “ao oferecer aos jovens as ferramentas para se engajarem com o futuro no início da vida, estamos equipando-os para enfrentar incertezas e desafios e ajudando-os a descobrir seu papel na definição do futuro.

A educação visa preparar os alunos para o futuro, algo que só podemos fazer bem se ensinarmos o futuro em si”. Isso exigirá acreditar que estudantes de qualquer idade, podem aprender a pensar de forma crítica e criativa sobre o futuro e desenvolver ações para influenciá-lo. Algumas escolas já estão desenvolvendo o seu Manual de Pensamento Futuro contemplando esses novos desafios, assim como atividades para o desenvolvimento profissional dos educadores e oficinas para os estudantes.

Em recente entrevista ao jornal Le Monde, o pensador e educador francês, Edgar Morin, disse: “A crise em uma sociedade gera dois processos contraditórios. O primeiro estimula a imaginação e a criatividade. O segundo é a busca de um retorno à estabilidade passada ou a adesão a uma salvação providencial, bem como a denúncia ou imolação de um culpado”.

Se, como desejado, optarmos pelo primeiro processo, o caminho estará iniciado e, certamente, colaboraremos para um futuro fascinante!