Jornal Estado de Minas

A grande massa de humildes vai erguer a Arena

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Se você está em quarentena, aceite a mole realidade da vida: você é um privilegiado. Imagine um porteiro, uma diarista, um segurança, um pedreiro ou uma manicure que decidisse trabalhar de casa. Enquanto passeia com o seu cachorro (não esqueça de vesti-lo com meias protetoras), repare que há uma maioria pobre na labuta do dia a dia. Fazem os “serviços essenciais” e ganham menos do que a gente, cujo trabalho, depreende-se, é dispensável. Alguma parte não lhe parece errada nessa conta?

Repare que as obras não pararam. Em meio ao silêncio, irrompe uma serra elétrica, sobe um guindaste, cavuca um trator. A areia, o cimento, o tijolo, a pedreira, quem é que carrega? “Essa grande massa de humildes não tem como ficar presa em casa”, disse o presidente ao demitir o ministro que fazia a coisa certa.



O novo estádio do Galo apresentou nesta semana os seus pobres mandados ao matadouro. Em postagem no Twitter, os construtores mostraram a quantas anda a arena: “A Massa pediu, a gente atende! Confira algumas fotos do andamento dos trabalhos”. As fotografias mostravam um estranho caminhão remanejando árvores do terreno. É certo que o caminhão não andava sozinho, e menos provável ainda que seu motorista pudesse operá-lo em home office.

(Faço um parêntese para externar meu estranhamento crescente com relação ao lote vago doado pela MRV ao Atlético no Bairro Califórnia. Trata-se, sem dúvida, do paraíso perdido de Darwin. No início, os trabalhos foram interrompidos por causa da descoberta de uma nascente de águas límpidas. Depois, um pássaro em extinção, um certo capacetinho, foi localizado no terreno. Se fosse o Cruzeiro a construir um estádio, a primeira enxada que batesse no chão faria jorrar petróleo, minas de nióbio seriam localizadas no subsolo. Mas como a gente nasceu com o fiofó virado pro sol, sugiro abortar a ideia de estacionamentos subterrâneos, sob pena de acharmos alguma civilização antiga perdida nos arredores de Contagem. Pois sabem o que fazia o estranho caminhão? “O transplantio de todas as palmeiras acumãs (Syagrus flexuosa), uma espécie rara e de grande importância encontrada no terreno”, informa a MRV. Quem precisa da Amazônia se temos o Bairro Califórnia, se não o pulmão do mundo pelo menos o seu respirador?)

Voltemos à mole realidade da vida, nós que podemos levar trabalho pra casa, I mean, fazer home office. Com tempo de sobra, entre uma faxina e outra dou-me conta de que estamos à caça de um centroavante. Meu voto vai para Lucas Pratto, mas tenho essa perigosa tendência à revisitação do passado, podendo ser aproveitado também o Éder Aleixo no caso de não servir como auxiliar técnico. Em todo caso, é alvissareira a notícia de que estariam na berlinda o lateral-esquerdo Lucas Hernández, o volante Ramón Martínez e os atacantes Franco Di Santo, Ricardo Oliveira e Clayton. Mais alvissareira ainda seria a iminente saída de Zé Ruelison. Que barca furada, amigos! Agora é que veremos se ainda há bobo no futebol.

E atenção! Removidas as raríssimas palmeiras, Rubens Menin informa que o estádio do Atlético começará a ser construído na próxima semana, quando se dará início à terraplanagem. “Se não tem futebol, ao menos tem o início da arena, né?”, brincou o dono da MRV. Nas redes sociais, o Galo tem feito campanha pela quarentena da população. Apesar da admiração pelas ideias de Bolsonaro, Menin deve estar recolhido em home office. Semana que vem, a “grande massa de humildes que não tem como ficar presa em casa” começará a erguer o Terreirão do Galo. Boa sorte a eles e a seus familiares.