Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Zezé Perrella não aprendeu nada com o Zé Pelintra

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Com o passar do tempo tudo vai se tornando mais claro. O distanciamento é o maior amigo da verdade dos fatos, e o correr do calendário vai conferindo aos mais diversos atores seus lugares na história. Calma, não estou falando de Bolsonaro e nem sugerindo a realocação de Sergio Moro. Por ora, não vamos misturar futebol com política. Vamos misturar com religião.



Verdade que já invoquei Deus como o operador dos nossos milagres, acessível através de uma senha (doisazerocontra), assim como num caixa eletrônico. Suspenso na nuvem, já comparei o homem lá em cima com o homem aqui embaixo, Karl Marx, sósias, sobretudo em razão da mesma barba espessa. Dessa vez, porém, o sacrilégio foi obra de Zezé Perrella.

Fala, Zezé. Bom dia, cara. Deixa eu te falar uma coisa. Eu tô pensando aqui, sei que tá difícil pra vocês arrumarem os recursos, mas não pode dar o cano no babalorixá. Vê se você consegue pelo menos pagar esses outros 40%.

Segundo o UOL, o pai de santo Reginaldo Muller Pádua foi contratado por Zezé Perrella em outubro de 2019 com a missão de livrar o Cruzeiro do rebaixamento. O valor acertado foi de R$ 10 mil. Quando a primeira parcela pingou na conta de Pádua, o Tímido Povo bateu o São Paulo por 1 a 0. Enquanto o carnê esteve em dia, foram oito jogos sem perder. Àquela altura, Reginaldo despontava como a melhor contratação do ano.



O babalorixá, no entanto, parece ter previsto que Perrella acabaria por roer a linguiça: no dia em que o dirigente pagou o terceiro e último boleto, o Cruzeiro perdeu para o CSA no Mineirão. Faltavam duas prestações. Pádua ficou a ver navios, e o Titanic acabou afundando.

Se Perrella fosse um conhecedor da história, saberia sobre Pai Edu, o pai de santo que garantiu o Náutico campeão entre 1963 e 1966, depois de nove anos na seca. Consta que Pai Edu escalou Zé Pelintra no comando de ataque. A entidade fazia o dever de casa, exigindo em troca alguns litros de cachaça.

Diante da crescente bebedeira, Pai Edu foi dispensado. E recontratado de novo depois de sete derrotas seguidas. Em troca do título, foi prometido a Zé Pelintra um bicho de verdade: um boi. O Náutico foi pentacampeão em 1967, mas a cabeça de gado só seria posta à mesa no ano do hexacampeonato, em 1968. Acontece que o bovino viera castrado, e na combinação constava o bilau em seu perfeito estado. Os Perrellas do clube prometeram então o envio de um touro completo, mas deram o cano. Dali em diante, o Náutico comeria o pão que o Zé Pelintra amassou.



Em 1999, de forma a espantar a zica, o clube ofereceu ao próprio Exu, uma espécie de chefe do Zé Pelintra, um boi inteiro, quatro bodes, oito galinhas, 12 litros de aguardente, um litro de uísque, charutos, pimenta malagueta, sal, cebola, facas-peixeira, azeite de dendê, farinha de mandioca e mel. O encarregado de fazer a entrega foi Pai Edu.

Naquele ano, o Náutico amargava a participação na Série C do Brasileiro. Havia dívidas diversas, mas a do pai de santo foi quitada voluntariamente, com juros e correção monetária. Zezé Perrella é o culpado pelo descenso do Cruzeiro quando suspendeu o pagamento de seu melhor jogador, o babalorixá Reginaldo. Enquanto a dívida estiver em aberto, o espectro da Série C rondará o Barro Preto.

Consta que o Atlético está em busca de um centroavante. Esquece. O negócio é contratar Reginaldo, de forma a não permitir um novo acerto com o rival. E assim o carnê permanecerá sem a devida quitação, o Cruzeiro seguirá com a moral enterrada na lama e o nome inscrito no Serasa. Oxalá!

(Em caso de tédio e perda de humor durante a quarentena, prescrevo o noticiário sobre o rival. Só não morram de rir)