
Durante muito tempo minimizei o papel do Botafogo em nossas vidas, qualificando-o como “a pedra em nossa chuteira”. Um equívoco. O Botafogo é o próprio Cramulhão, o Diabo na rua no meio do redemoinho. Eu devia ter desconfiado já no longínquo 2007, quando Carlos Eugênio Simon estuprou nossas esperanças ao subtrair da gente aquele pênalti pornográfico. Simon é sujeito honrado, foi um juiz à moda antiga, sem lado. No momento em que, diante do óbvio ululante, recusou-se a apontar a marca da cal, é certo que operava ali um encosto. Em sua cabeça, a voz de Wright sussurrou-lhe a mensagem, como um VAR que lhe falasse aos botões: “Não foi nada”. Grunhiu o marreco: “Não há provas, bastam as convicções”. E deu-se, então, o ocorrido, caso para se chamar o camburão.
Ainda antes, em 1971, Humberto Ramos escapou em furiosa carreira, como se um Sérgio Araújo em preto e branco, mais visível na voz de Vilibaldo Alves do que na imagem captada pelo Bombril das antenas de televisão. Chegando à linha de fundo, mirou a cabeça de Dario, a testa de ferro que tanto já fizera pelo Peito de Aço. Dadá então parou suspenso no ar, como o helicóptero ou o beija-flor, a aguardar o tempo da bola. Pode isso, Arnaldo?
Não se sabe exatamente o que almeja o Botafogo, se é contra ou a favor, se deseja a virada ou o confortável centrão da tabela. Sábio foi o redator da lista da Odebrecht ao escolher o codinome Botafogo para Rodrigo Maia. O Botafogo não almeja nada senão provocar no atleticano seus instintos mais primitivos. Se há um Gabinete do Ódio, ele se encontra em General Severiano – eis o general que nos tortura.
O Atlético pode vir com Junior Alonso e Luizinho, Allan Franco e Cerezo, Keno, Reinaldo e Éder. Ao Botafogo bastará o pessoal do Administrativo, os casados do Almoxarifado e os setoristas da imprensa. É por isso que este escriba nunca mais assistirá a um Atlético e Botafogo. NUNCA MAIS! Eu juro. Vocês que lutem, eu estarei no umbral como o corvo do Edgar: nevermore. Pra apanhar da vida já me bastam os boletos.
Superado o Botafogo, apresento-me de novo para a luta. Porque hoje é sábado. E hoje é diferente. O mundo parou para o Internacional quando Falcão tabelou de cabeça com Escurinho, que devolveu para Falcão, que fez o gol mais bonito do Beira-Rio, na virada sobre o Galo em 1976. Foi ali, naquele lance, naquela semifinal, que o Inter seria bicampeão brasileiro contra o Corinthians dias depois (o tri viria em 79, e depois, nevermore). Quem iniciou a jogada? Dario, o Peito de Aço, agora vestido com a camisa do Colorado. Traidor! Siga as ordens do partido: no sul a gente é Grêmio, Dadá, tome tento – nossa bandeira jamais será vermelha!
Falcão e Escurinho se acertaram com o homem lá embaixo. Pode dar a 9 pro Belmiro: hoje a gente dorme na liderança.
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Suas colunas tinha que ser nas segundas ou terças. Sábado, ficamos defasados.
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