Não vi o jogo do Crüzëirö contra o Brasil de Pelotas – evito, minha performance como secador é historicamente um desastre. Ademais, de calos bastam os da alma, os olhos... é prudente preservá-los, declinando de criar corvos e de assistir ao arquirrival. Se bem que acabei por ver, a posteriori, o gol decisivo. O Crüzëirö deve as calças e as cuecas, mas joga de Adidas e com narração do Galvão Bueno: “Olha o que ele fez!!! Olha o que ele fez!!! Gooooooool!!! É do Brasil!!! Brasil-sil-sil!”.
Aquilo me entristeceu: havia uma energia no ar, uma vibração de bate-estaca abrindo caminho no fundo do poço. Energil C, digamos. E quando os caras descolam uns caraminguás, ainda pagam o irmão do Anelka, ó, vida, ó, céus, ó, azar... A lição que fica para o atleticano é: muito cuidado com aquilo que você deseja. Como se diria nas dublagens da tevê a cabo, a gente queria que eles se danassem – mas, pô, não precisava morrer!
Se tem algo tão certo quanto sem dúvida, uma cláusula pétrea do futebol, ela dita que na rodada em que o Crüzëirö se fode, ops, se dana, o Galo se dá bem – é uma coisa da ordem dos alinhamentos dos astros, universo em modo Michel Temer, conspirando, só que a nosso favor. Na quinta-feira, temi por tal cláusula. Afinal, mesmo as pétreas da Constituição andam um tanto líquidas. O São Paulo ganhava todas, a nossa defesa mais vulnerável do que advogado do Crüzëirö em julgamento na Fifa. Pensei comigo: danou-se.
Tenho gostado bastante do DJ do Mineirão. Ele tem o timing perfeito. Lembra os meus tempos de Love Story, o puteiro transformado em boate da moda no centro de São Paulo, e cujo tocador de música sabia a hora perfeita de botar fogo no cabaré. A fagulha se dava quando o slogan daquela casa nada familiar irrompia os ares esfumaçados pelo cigarro e o gelo seco: “Love Story! A casa de todas as casas!”. Seguia-se, então, a balbúrdia.
O DJ do Mineirão sabe a hora do hino e da Galoucura, da Beth Carvalho e do revival de Creedence à nossa moda. Nesse embalo, creio eu, de repentemente engolimos o São Paulo. Que coisa, senhores! Aquilo tinha começado como o prenúncio de uma catástrofe, os paulistas acossando a gente como os credores atrás do Crüzëirö. Em poucos minutos, porém, lá estávamos nós, um time de profissionais, a enfrentar os casados da firma.
A certa altura, me solidarizei com o veterinário dos meus cachorros, um são-paulino gente fina: não era possível que um time perdendo de três ficasse assistindo ao outro trocar passes como num jogo de bobinho. Se não têm a força dos pitbulls, que mordessem como um Luis Suárez! Que metessem o chifre como fez Zidane! Às vezes, a defesa da honra exige que se acabe com o baile na base da porrada. Mas como, se há do outro lado o único Jair que a gente respeita?
Imagina se o baile fosse com música ao vivo. No lugar do DJ, o coro de 50 mil gogós em espasmos de galos completamente doidos. Alan Franco ia chorar de novo pelo seu pai, que não pôde ver a beleza de tamanho espetáculo. Rafael se perguntaria por que a vida lhe privou daquilo durante os anos em que choveu apenas na horta do Mãos de Alface. Assim como se aprumaram os dentes de Ronaldinho, cresceria cabelo em Sampaoli – ninguém é o mesmo sob os auspícios da Massa.
Finda a peleja entre profissionais e amadores, a imprensa paulista elegeu o pior em campo, aquele que vai ter de pagar um Motorádio: o pobre do VAR, esse vilão nacional. Concordo totalmente, tem VAR que é cego! Não fosse aquele pênalti, seria de 4 de novo, como no dia em que R10 pediu água e Rogério Ceni serviu na bandeja. Ficou barato.