Jorge Sampaoli é um dos melhores treinadores do mundo. Sua opção – e obsessão – pelo ataque é o próprio DNA do Galo Doido, motivo pelo qual encontra-se no lugar certo na hora certa. Sampaoli tem uma vantagem: seu Galo é um tipo de doido cujas ações têm planejamento. Trata-se, nas palavras do amigo Christian Munaier, não exatamente de um doido, mas de um psicopata.
O Galo de Cuca era como o golaço do perna de pau Dinho contra o Crüzëirö na histórica narração do Willy Gonzer: “Dinho, o homem-coração, Dinho, o homem-força, Dinho, todo entrega, todo generosa luta!”. O Galo de Sampaoli é oto patamá.
Contudo no entanto, há um calcanhar de Aquiles: se você não mata o jogo, morre o esquema de Sampaoli, condenado à forca pelo parágrafo primeiro da constituição do futebol: “Quem não faz leva”.
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Como não disse Leminski, atentos venceremosO atleticano emputecido é a única instituição que ainda funcionaSe o Galo for campeão brasileiro, um infarto não será inapropriadoO gol perdido é a prova mais inequívoca da existência de Deus. O que dizer do pênalti desperdiçado por Riascos? Não me venha mais falar de Big Bang. E Ferreyra, El Tanque, aquele que escorregou na final depois de driblar o Víctor, o gol do título aos seus pés e vupt!, foi Elias Kalil, foi meu tio Alberto – foi Deus!
Quando se perde o gol feito, você inscreve no BID o melhor reforço do seu adversário: Ele. Aí é foda, porque Deus é um jogador moderno e versátil, atua em todas as posições, além de imarcável porque invisível.
Quando o sujeito acredita que Deus está do seu lado, você já perdeu, porque joga com 11 e eles com 12. Há anos Fábio de Costas vem dando a letra: o atacante perdeu o gol? Foi Deus. Bateu o pênalti em cima dele? Foi Deus. Agora, quando o Vanderlei percebe que Fábio cometera o pecado de dar as costas a Deus e o mundo, quando Danilinho lhe aplica o chapéu e mata o jogo, aí o próprio Deus já está a trabalhar pelos três pontos.
O esquema de Sampaoli não resiste ao gol perdido. Como o marketing do Kalil, ele se resolve com a bola na casinha. Sua estratégia ao estilo Garrincha, manjada mas imparável, cria dezenas de oportunidades. Se guarda um, dois, e Deus vem junto – aí resta ao adversário duas opções: ficar lá atrás e defender a honra, ou se lançar à frente e tomar mais cinco.
Deu-se bem o Vasco ao adotar a alternativa número um, levando apenas quatro na corcova. Agora, se você tem 200 chances e não converte nenhuma, aí se danou tudo: fará do goleiro médio um Aranha Negra. E terminará furado por aquele que pontuar melhor no quesito todo entrega, todo generosa luta.
Não culpe o juiz, é feio. O sonho do oprimido é tornar-se o opressor: quem vira o jogo contra aquele que o amassou sem piedade terá sempre a simpatia do povo – e o povo unido, pelo menos na Bolívia, jamais será vencido.
Abstenha-se de comentar. Culpe, na pior hipótese, a falta que lhe faz um camisa 9. Olhe para a foto famosa de Reinaldo no hospital recebendo a visita de Pelé, e pense: “Um Rei. Ao seu lado, Edson do Nascimento”.
Pense em Dario parado no ar em 1971. Pense em Ubaldo, carregado nos braços do povo. Em Guilherme, o Engels de Karl Marques. Pense em Tardelli no gol do título. Pense em Jô naquele primeiro minuto do segundo tempo – o primeiro minuto do resto de nossas vidas.
Agora, se concentre em Rubens Menin – e só então faça o seu pedido. Veremos se dá certo.