Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Galo de Cuca é o nosso Rivotril aplicado na veia pela enfermeira falsa

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Por muitas vezes, minha relação com o Atlético adentra a “fase do gim”, a derradeira para os alcoólicos, anônimos ou notáveis. Para explicar a situação de degradante dependência entre este podre escriba e sua cachaça, classifiquei-a, certa vez, na categoria “Amy Winehouse”. Seria mais adequado, dadas as minhas relações com o punk rock, o escaninho “Sid Vicious”. Mas este acabou por matar a namorada, Nancy, e eu não pretendo matar ninguém. Ainda.


Na quarta-feira passada, Amy Winehouse ficou pequena pra mim. Enfurecido diante do computador, eu me digladiava com Steve Jobs tentando fazer funcionar o link pirata do jogo em meu velho Macintosh. Enquanto se desenrolava essa peleja em que eu já entrara derrotado, a locução do rádio chegava a São Paulo engasgada pelo aplicativo do celular, certamente contaminado pela aglomeração de torcedores em busca do indispensável Rivotril que é o Atlético Mineiro.

Aquele quarto escuro, o locutor gago, fanho, e por fim mudo. O site pirata navegando a esmo. O Atlético jogando e eu ali, cracudo sem crack, naquela situação lamentável. Quando já me encontrava entregue, eu o George Floyd, a vida com o joelho no meu pescoço, eis que surge um sinal vindo de Caracas. “Caraca!”, pus-me de pé, a mão direita nas partes. “Chupa, Steve Jobs!!! Chupa, Conmebol!!!” Como se caminhões de oxigênio acorressem em meu socorro, lá estava o Galo, ao vivo e a cores, na Venezuela. Verdade que as imagens chegavam apenas numa diminuta janela de cerca de 10 centímetros, deixando obsoleto o monitor gigante. “Fodas”, pensei, “o cracudo nem sempre escolhe o tamanho da pedra”.

Evidentemente, o pirata latino-americano não era lá essas coisas, e a sofrível transmissão não carregava a contento. Difícil que se completasse um chutão sem o travamento da imagem, de modo que o arranca-toco nunca se consumava inteiramente, mas em retalhos, e retornando sempre ao ponto de origem. Liguei o rádio e passei a escutar um enquanto olhava o outro, ainda que a realidade dos fatos trazidos pelo locutor gago, fanho e mudo já se estivesse cerca de 2 minutos à frente dos piratas do Tietê. Sinceramente, espero que meu filho, atleticano na fase da Coca-Cola, jamais se transforme nesse lunático num quarto escuro buscando sinais do além enquanto a realidade lhe chega em dois tempos distintos.


Se bem entendi o que se passou em Caracas, foi mais do mesmo que se deu no Mineirão domingo passado, contra o péssimo Boa, e, antes, diante do arquifreguês. Desde a chegada de Cuca (avisamos), o Galo mudou do vinho pra água (não é milagre, é Atlético Mineiro!). O povo critica porque não vê os treinamentos. Reclama de Zaracho na reserva, mas desconhece sua falta de qualidade na roda de ciranda, sem ritmo de jongo. Critica o Vargas, mas não sabe que ele ganha todas no par ou ímpar antes de começar o rachão.

A considerar a primeira rodada da Libertadores e a última do Mineiro, não há time pior que esta selegalo. Sem alma, sem tática, sem vontade, sem nada. Um amontoado de jogadores contratados para um projeto cujo idealizador é substituído por outro que joga e pensa o jogo de forma totalmente diferente. E não foi apenas Sampaoli que saiu: o “projeto” trocou todo mundo, presume-se que da mesma forma tosca que operou a substituição do treinador. Agora o Galo de Cuca é o nosso Rivotril aplicado na veia pela falsa enfermeira de Belo Horizonte. Voltemos ao gim!