Rodrigo Dunshee, vice-presidente do Flamengo, é aquele tipo de cara de pau que apenas o óleo de peroba não resolve – para o seu caso, são necessárias umas boas demãos de verniz náutico. Depois de reservar hotel em Cuiabá antes que a CBF anunciasse o jogo na cidade, reclama de “falta de isonomia” porque o regulamento reza (rezava) que ambos os clubes deveriam chegar à praça do jogo com três dias de antecedência. A regra não será seguida pelo Atlético porque só há um hotel com estrutura disponível para realizar treinamentos – o hotel do Flamengo, é óbvio.
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No Estadual do futebol-raiz, nós vamos cantar de GaloSe o Galo mudou não importa. Importa é que siga lá no topoQue o Turco se junte ao Kalil e a Said e faça história no GaloTiozão do Twitter em estado caricatural, Dunshee disse que o Flamengo não vive de mesada, uma resposta ao presidente do Atlético, Sérgio Coelho, que apenas se referiu ao cargo de fato ocupado pelo vice-presidente, o de bobo da corte. A história está aí para provar que, assim como é da tradição dos bobos da corte, esse também tem sua razão: no lugar do investimento privado em acordo com a lei e a desportividade, o time de Dunshee prefere o aplauso e o benefício dos ditadores e políticos, o dinheiro público na forma de patrocínios exclusivos, a promoção e o pagamento de uma concessão pública de televisão disposta a qualquer negócio para minar a liga de futebol nacional, que todos sabem ser a salvação. Acrescente-se a isso a sempre amiga CBF, o sempre amigo STJD, e advém daí o que se conhece por Flamengo.
O Flamengo é o mais puro suco de Brasil, 100% da fruta – apenas o Brasilzão na veia, em sua completude. Belo por um lado, vamos admitir, sobretudo na democracia racial de sua arquibancada e na festa que sabe fazer o carioca do morro. E ponto. De resto, não há nada de que se possa orgulhar verdadeiramente em sua história, repleta de juízes ladrões, favorecimentos, suspeições, imoralidades.
Constrangedor ver Zico em um documentário sobre a Libertadores de 1981, conquistada na mão grande, como é de conhecimento mundial (o jornal inglês The Guardian qualifica aquele Atlético e Flamengo como “o maior roubo da história do futebol”). Falta grandeza ao deixarem de fora do Flamengo de Todos os Tempos jogadores fundamentais, como José Roberto Wright e José de Assis Aragão, os únicos a parar Reinaldo.
Por esse estado de coisas, é tão bom ganhar do Flamengo, seja na bocha, no pique-esconde ou nessa Supercopa mandraque, cuja sede foi escolhida em reunião entre dois setores do clube grande campeão da Guanabara – o Departamento de Futebol e a CBF. Consta que a Globo não gostou, excluída que foi desse longevo caso de poliamor. Galvão nem vai transmitir. Galvão? Fala, Tino.
O Flamengo é o lado errado da história. O Galo é o punho cerrado do Rei. O Flamengo é o time do Eduardo Cunha. O Galo, da Dilma. Por isso, ganhar do Flamengo é fazer do mundo um lugar melhor – e se não o mundo, pelo menos Belo Horizonte. Não vai ter golpe! Até porque, não há Wright nem Aragão. O Galo vai ser campeão de novo. O Flamengo vai ficar com a medalha do primeiro a chegar no hotel. Se juntar com a Taça Rio e a Taça Guanabara, já leva a tríplice coroa para o balneário.