Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Roteirista do Galo nos vende esperança e remédio pro coração

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Peço licença aos mais novidadeiros para voltar ao longínquo dia 6, também conhecido como domingo passado. A exemplo do político que inaugura a obra inacabada, estreei com pompa a nova sala de televisão (sou atleticano exilado em SP, por isso o sofá), em meio às intermináveis, infinitas caixas da minha mudança. Para mestre de cerimônias, contava com o infalível roteirista dos jogos do Galo, aquele cujos épicos com desfechos pra lá de previsíveis seguem a testar nossos carcomidos corações – coitada da Janete Clair perto desse monstro das jornadas do herói.



Pois bem, o Gaganhô mais uma vez, ai, credo, de novo daquele jeito. Como uma música dos Ramones, um riff do AC/DC, um livro da Agatha Christie: sempre a mesma coisa, sempre incrivelmente sensacional. Pobre roteirista a repetir-se desde 30 de maio de 2013, Dia de São Victor do Horto, padroeiro de Belo Horizonte. Quando o arrastar modorrento das coisas se insinua, lá vem ele com a fórmula manjada: primeiro, o revés, depois, a virada. E a gente parece o Crüzëirö, cai uma vez, cai de novo, cai outra vez.

Da minha parte, o Galo Doido que vos escreve cai igual um patinho, e, foda-se o sofá, arremesso a cerveja, mordo o cachorro, como as folhas da samambaia. Uh, tererê, uh, tererê! Pula aê, deixa o caldeirão ferver! Conto sempre com a cumplicidade do Francisco, que, aos 14 anos, arrumou de ficar com uma mina da escola nascida no Sul e criada em São Paulo. Disposto a oficializar o arranjo, escreveu uma carta, juntou à missiva uma camisa do Galo, embrulhou no papel de presente e seja o que o Diabo quiser.

Tenho pra mim que a virada começou a se desenhar na hora em que o Galo Doido surgiu ameaçador, com aquele peito de chester, em frente ao tal de Roque. A partir dali o Cäbülösö começou a se enrolar, e mesmo Roque se tornaria esse tal de Roque’n’roll. Não demorou muito e a casa repetiu o Crüzëirö: caiu.



Nunca se assistiu a tanta choradeira em torno de um pênalti inequívoco, límpido e transparente, uma botinada radiante vista por todos os ângulos, um carrinho translúcido e desgovernado abalroando-se logo adiante, em clara infração de trânsito. Mas o mundo está chato, diz o pessoal que acredita na Terra Chata. Então, tivemos de aguentar os negacionistas de pênaltis existentes, os antivax da marca da cal, os Mauro Sérgio da vida em seus ninhos de urubu. Chola mais! Ao fim e ao cabo, o Ademir passou a régua, para o infortúnio do cachorro e da samambaia. Vão dizer que só o fez porque tava na marca do pênalti.

Enquanto, entre lágrimas, esse épico se desenrolava, outro filme tinha dupla exibição. Trata-se de “O Pagador de Promessas”, estrelando Sérgio Coelho e Ricardo Guimarães. Coelho subiu no cavalo e mandou-se para Aparecida, de forma a agradecer aos pênaltis alcançados. Fosse uma tartaruga, teria chegado antes, mas, ainda assim, Coelho cruzou a linha de chegada.

R foi mais canastrão. Intentava caminhar até Congonhas do Campo, promessa que Telê, marotamente, “cumpriu” tomando um táxi e assim condenando o Galo a 50 anos de espera por um outro Brasileirão. E o que faz R? Chega em Congonhas num carro da Polícia Rodoviária. Ah, não, esse povo acha que o homem lá em cima é o Augusto Aras, o homem que nada vê? Porra, R, você é o rato que roeu a roupa do rei de Roma! Agora, só em 2072, ano do centenário deste escriba, que há muito já terá morrido de Atlético, culpa desse roteirista sempre pronto a nos enfartar.

E, cuidado, porque lá vem ele a nos entupir as artérias! É um potencial homicida: não há mais dúvidas de que deseja nos matar. Não lhe basta mais o épico de primeira grandeza, o pênalti no último minuto numa Libertadores, os 50 anos em 5 minutos no jogo do título de um Brasileirão. Agora, o psicopata trabalha até em arranca-toco contra o Pouso Alegre. O que aprontará hoje na peleja contra o time de Joe Biden no Brasil, o Democrata de Governador Valadares? Quem viver verá.