Fiquei imensamente aliviado ao saber que a Arena MRV, prevista para custar 410 milhões de reais, sairá, ao fim e ao cabo, por 950 pilas – e, ufa!, ainda pode aumentar. Também tirei um peso das costas ao ser informado de que a previsão de entrega da obra, inicialmente marcada para outubro, ficará para dezembro. Ou agosto – a gosto de Deus.
Diz-se que um homem só cumpre verdadeiramente sua missão depois de fazer um filho, escrever um livro, plantar uma árvore e construir uma casa. Este escriba, pois, já poderia se aposentar: fez dois filhos, escreveu três livros, plantou um pé de biribiri, duas amendoeiras, um pé de acerola, uma goiabeira, e uma outra lá que me escapa o nome. Fez dois bangalôs e dois puxadinhos.
Faria mais filhos, não fossem os boletos que vêm no pacote. Deve dois novos livros a duas editoras, e os entregará em agosto. Plantará outras árvores, não há dúvida. Mas depois da porra dos puxadinhos e bangalôs, jamais, em tempo algum, sob qualquer circunstância, empilhará mais do que meia dúzia de lajotas, ainda que seja para armazená-las no quartinho da garagem.
Apesar da minha notável falta de habilidade para a construção e os negócios, fiz melhor do que o Rubens Menin: puxadinhos e a caralha dos bangalôs custaram apenas o dobro do previsto, me levaram à bancarrota mas serão entregues antes de dezembro. Assim como o Galo, recorrerei a empréstimos bancários escorchantes. Pelo menos não sou banqueiro pegando dinheiro no banco.
É verdade que os Menin estão a erguer a pirâmide de Quéops, Quéfren e Miquerinos – a oitava maravilha do mundo. Assim como o slogan da Love Story, o mítico puteiro de São Paulo, o Terreirão do Galo será “A casa de todas as casas”. Enquanto eu, na minha engenhosa insignificância, estou a lidar com ralos e fossas, o puxadinho de todos os puxadinhos.
Enquanto os Menin permanecem numa tranquila, numa relax, fazendo política e elegendo o Zema, eu me descabelo, envelheço um ano a cada semana, almoço duplicatas, janto notas promissórias, sonho argamassas e aduelas. O cafofo se ergue na areia, e eu me enterro até o pescoço. Quem nasceu pra Melo Paiva nunca será um Menin.
Recorro ao meu Rivotril: tem mas acabou. Duas vitórias nos últimos dez jogos. Caraca, vou ali dar uma suicidada. Em respeito ao setembro amarelo, suicido mas já volto vivo. Ligo a televisão e o Flamengo virou o Real Madrid, o Dorival Junior é o Guardiola, o Pedro é o Cristiano Ronaldo. Mergulho na fossa, literal e metaforicamente falando.
Confiro o horário do jogo: amanhã às 18h. Ufa! Muito melhor do que destruir o fim de semana ainda no sábado. Temos aí pelo menos umas 34 horas de paz até a inevitável sessão de autoflagelo. Tempo para o Dr. Scholl tratar o calo nos zóio – que vai brotar novamente como uma varíola dos macacos ao final dos 90 minutos de penúria. A varíola dos Galos. Oh vida, oh céus, oh azar...
Agora eu tô puto. Inspiro-me na retórica do menino Janones: devolvam meu Rivotril, seus vagabundos! Dizem que funciona. A ver. Volto aos ralos e às fossas, de onde vem a notícia – Bolsonaro e sua família negociaram 107 imóveis, 51 pagos em dinheiro vivo. E eu ali, me digladiando com os puxadinhos, o Galo vendendo as cueca pra realizar o sonho da casa própria. Quem mandou procurar banco? Fica o ensinamento: vai guardando o troco embaixo do colchão. Um dia cê acorda multimilionário. Eu acredito!
E a gente achando que o negócio era fazer uma poupança, estudar, entrar na faculdade. Que burro! Mas como eu ia dizendo, respirei aliviado: não chego a Bolsonaro mas sou melhor do que o Menin.