Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Nós, es cornes manses, somos idiotes completes

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O atleticano, tendo certamente cometido toda a sorte de barbaridades em vidas passadas, está sempre a comer o tropeiro que o diabo amassou. Não basta ficar privado de sua cachaça às quartas-feiras, e até em fins de semana, quando pousa em seu sofá como o corvo no umbral – apenas aquela sórdida intenção de secar, quase sempre sem lograr qualquer sucesso. O atleticano secador é um fracasso total.




 
Não basta essa lei seca. O atleticano está obrigado a acompanhar o sucesso de seus inimigos. O Cruzeiro está no topo da tabela – como as tranças do rei careca ou a volta dos que não foram, o incaível subirá. Flamengo e Corinthians farão a final da Copa do Brasil. O Flamengo vai ganhar a Libertadores. Se perder, o time do Moro será campeão. 
 
Se o azar no jogo quer dizer sorte no amor, é de muito, mas muito amor que estamos a falar. O amor vai vencer o ódio, beleza. Mas só isso não dará conta do nosso ocaso dentro das quatro linhas. De modo que se prepare: vem aí a Bruna Marquezine e a Isis Valverde, a Juliette Lewis e a Scarlett Johansson. Cada atleticano terá direito ao seu trisal. Cada atleticane, diga-se.

Es atleticanes têm um problema sério com o amor. São vítimes de um relacionamento abusivo desde 1908. Poderiam se divorciar, alguns o fizeram. Mas insistem no erro, como cornes manses – são burres. A coisa é complexa, só Freud na causa: quanto mais corneades, mais aguerrides e apaixonades. Felizes muitas vezes, é verdade, infelizes muito mais. Sobretudo, atleticanes.    
 
Enquanto cruzeirenses, flamenguistes e corintianes tomam seus porres de felicidade, lá vamos nós para a Ressacada. Estou como a grávida psicológica: antes de ver já começa o calo no olho. Se pelo menos o nosso fim de semana fosse destruído no domingo... poxa, no sábado, às 16h30, é sacanagem. Fazer o quê? Nada. Cornes aceitam tudo. Vou vestir a camisa listrada e sair por aí.




 
Nessa penúria de resultados, com o inimigo sambando na nossa cara, a grande imagem da semana foi o içamento do escudo no Terreirão do Galo. Deixo-me levar por esses pormenores grandiosos. O bom corno, ou a boa corna, acha sempre a prova do afeto verdadeiro, aquele que justifica sua pobre condição de servo – ou cervo. Ou cerve.
 
Quando vi aquele escudo sendo içado como um piano que tenta alcançar o décimo andar, me veio a desmedida emoção daquele que só chora nas vitórias – e para todo o resto, com a mansidão do corno, dá de ombros. Enquanto subia o escudo, lágrimas desciam em minha face. Enquanto lágrimas desciam em minha face, os 4Rs subiam a aposta em seus projetos políticos, cooptando o quinto R – o Rei no tabuleiro do xadrez, que tristeza, senhores e senhoras.
 
(Vi o Rei numa foto com os 4Rs e em campanha com Sette Câmara. Em ambas as situações, me deu a impressão de que se trata de um sequestro. Pude perceber nos gestos e olhares do meu ídolo, nas suas palavras cifradas, o pedido de socorro, a mímica do SOS. Qualquer informação sobre a localização do cativeiro deve ser compartilhada com urgência. Fé em Deus, Rei, estamos chegando!)

A última vez que assisti a um içamento com tamanha emoção foi quando retiraram do buraco os mineiros chilenos presos no desabamento – compatrícios, enfim. Enquanto o escudugalo subia aos píncaros, pensava na sorte de ter nascido atleticano. Nós, es cornes, somos idiotes completes. Gaaaaalooo!