Em outubro de 2018, o Galo empatou com o América, perdeu do Ceará e da Chapecoense. Uma crise se instalara, e o principal culpado era o então diretor de futebol, Alexandre Gallo. Na semana que antecedeu o segundo turno das eleições presidenciais daquele ano, 38 torcedores compareceram a uma manifestação na sede de Lourdes. Estavam realmente preocupados, e uma das faixas que levaram dizia: “Você não é digno do nome que carrega: Fora Alexandre Tadeu”.
Por esses dias, um leitor me escreveu: “Você foi premonitório no último texto antes do segundo turno de 2018”. Não tinha pandemia. Naquele ano, 91,33% das crianças brasileiras foram vacinadas (em 2019, o número cairia a 73%; em 20, a 67%; em 21, a 59%, informa a Fiocruz). Havia em circulação cerca de 1 milhão de armas a menos, segundo dados dos institutos Sou da Paz e Igarapé, colhidos com Exército e Polícia Federal. Não passava pela cabeça de ninguém a hipótese de que, um dia, um político corrupto pudesse receber a PF com 50 tiros de fuzil e três granadas.
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Já não havia mais ninguém para reclamarVamo, Galão! Fascistas não passarão!Aleluia! O fumacê do Rivotril passou na nossa ruaHá coisas que só acontecem com o Atlético"Nossa vitória é ter nascido atleticano"O leitor compartilha comigo um trecho daquela coluna, de 27 de outubro de 2018.
“Esqueça o futebol. Seu voto, no domingo, pode me matar. Pode matar um filho seu, a filha da minha prima, seu neto, seu melhor amigo. Já aconteceu, juro, consultem os livros, ouçam os alertas vindos do mundo inteiro, pensem no Cristo torturado, nos judeus nas câmaras de gás. Se eu estivesse são, estaria neste momento em frente a sede de um clube de futebol pedindo a cabeça do diretor. Mas como eu devo ter enlouquecido, estou aqui pedindo seu voto. Não precisa gostar do outro candidato. Se for o caso, tape o nariz e pense que 13 é Galo, o time da virada, o time do amor.”
Até as 16h de ontem, 687.962 pessoas morreram de Covid. Quantas estariam vivas se o presidente não tivesse incentivado as aglomerações e desprezado as ofertas de vacinas? Sigo vivo. Atleticano exilado em São Paulo, recolho-me ao sofá para mais uma pelada daquelas. Atlético e Juventude, que poderoso sonífero. Prescrevo o VT aos que estão ansiosos pelo dia 30. O calo no olho é o único efeito colateral.
“Amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria”, informa o Guilherme Arantes quando me disperso em um novo vídeo no Whatsapp, a pelada rolando, o tik-taka dos infernos. “Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam ver o dia raiar. Amanhã, ódios aplacados, temores abrandados, será pleno.” Eu tô chorando até com o Guilherme Arantes, tô lascado. Acordo do transe. Persisto no arranca-toco. 1 a 0 pra nóis. Tá valendo. Amanhã levo meus olhos ao dr. Scholl.
Estou imune às emoções do ludopédio. O coração só bate pela peleja do dia 30. A eleição vai definir o futuro da humanidade, me diz o New York Times. Assisto inerte ao gol do Dodô. Quem se arrisca a pular e socar o ar, se está na beira abismo? Francisco está preocupado: papai só pensa naquilo.
Digo que é por ele, e que o jogo do dia 30 vai decidir quem seremos nós daqui pra frente – e que eu preciso que ele saiba de que lado eu estava em 30 de outubro de 2022.