Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Seu Nivaldo tem um duplo problema: Hulk e Paulinho


Embora mineiro, acho eu, o prefeito de São João del-Rei desconhece a “filosofia máxima de um povo”, como dizia o pessoal da Dragões da FAO: quem fala demais dá bom dia a cavalo. Ao cometer a improbidade futebolística que deveria lhe valer o mandato, Sua Excelência a cavalgadura caminhou em direção ao quadrúpede e estendeu uma das mãos. Aposto o braço que completará o ato no dia de hoje, a partir das 16h30: “Bom dia, como vai o senhor?”.





Seu Nivaldo, o prefeito, é cruzeirense. Mas não apenas o posto que ocupa explica sua acalorada torcida pelo alvinegro de nome Athletic – Freud também dá conta do recado, na seção em que versa sobre a vontade que esse povo tem de dar um grito de Galo, essa coisa engasgada na garganta quando cai um copo no chão.

Diante do voleio de Hulk contra o pobre Millonarios, seu Nivaldo pôde colocar à prova sua tese segundo a qual Hulk “tá uma merda, não vale nada”. Conclusão: a tese é uma merda e não vale nada. Como o asno que puxa a carroça, seu Nivaldo voltou à carga: “Sábado, tchau procê”, relinchou, abrindo nova data na agenda para o famoso “quarta-feira tem mais”. Não sem antes cutucar o Freud com a vara curta: “Hulk, meu filho é atleticano e é seu fã”. Normal, seu Nivaldo.

Seu Nivaldo tem um duplo problema: um se chama Hulk, o outro, Paulinho. Não adianta o alcaide ficar na marcação do primeiro, se deixar livre o segundo. Ali é trabalho feito a quatro mãos, digo, quatro pés – como o seu Nivaldo, ao caminhar pelas ruas da aprazível São João, só que diferente.





Hulk e Paulinho é igual Hulk e Savarino, o Savahulk, só que melhor. Ao que tudo indica, a dupla atual se inserirá na gloriosa prateleira de Marques e Guilherme, Jô e Ronaldinho, Reinaldo e Éder. A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida. E esses aí são como Lennon e McCartney, Pelé e Pagão, Bolsonaro e o Queiroz.

Seu Nivaldo tá enrolado: precisa um olho no peixe e outro no gato, quer dizer, no Galo. Político é foda: confesso que quase acreditei no seu discursinho, afinal perder para o Athletic, com toda a falta de respeito, é uma várzea danada. E que jogo horroroso aquele lá na São João do Reinaldo... Acordei no dia seguinte e fui direto ao dr. Scholl remover o calo no zóio. Um jogo desse devia ser disputado durante a madrugada, de modo a fazer dormir até o último dos insones.

“Quarta-feira tem mais”, pensei comigo, a pressentir que o Millonarios, fazendo jus ao próprio nome, fosse bater nossa carteira. Mas, menino, o futebol é uma caixinha de cerveja... O primeiro tempo, vá lá, foi razoável. Mas no segundo me senti no auge da vitoriosa luta de classes ao atropelar Millonarios. Hulk e Paulinho tavam que nem Marx e Engels, demolindo o sistema e fazendo justiça ao povão.





Naquele segundo tempo, o Galo de Coudet parece finalmente ter aprumado a crista e estufado o peito, um verdadeiro chester fugido antes do Natal. À exceção daquela metida do Otávio à meia bomba, todo resto resolveu funcionar. O seu Nivaldo devia colocar as barbas de molho. Mas em seu partido barba é coisa de comunista, de forma que não há nenhuma em sua cara de pau. O pentelho do seu Nivaldo é que vai pagar o preço por sua língua de tamanduá.

Vamo, Galo! Athletic bom é Athletic morto! Bora cassar o seu Nivaldo! (Atenção, eu disse cassar, e não caçar.) Hasta la victoria siempre!