Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Como diz o outro, Eduardo Coudet não passa frio - está coberto de razão

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Até anteontem eu não gostava de Eduardo Coudet. Não é que não gostasse, assim, da pessoa dele. Apenas não entendia, até a quinta-feira, a que tinha vindo Coudet. Ficava pensando se de fato ele treinava o time, um amontoado de jogadores a atuar no já manjado tiki-taka versão aquela-sesta-depois-de-mandar-uma-vaca-atolada-com-cerveja. O Galo de Coudet é um poderoso sonífero, uma canção de ninar interrompida apenas quando Hulk desafina o coro.



Como treinador do Atlético, o argentino Eduardo Coudet é, até aqui, um Joel Santana que não se arrisca a falar em outra língua, a gente que lute. Da pessoa de Coudet não se pode aferir nada, afinal não vota nem declarou voto na última eleição brasileira - eis o mais eficaz medidor de caráter que se tem no mercado.

Desde a coletiva de quinta-feira, porém, podemos intuir que dignidade é algo que não lhe falta.

Coudet não passa frio, diriam os gaiatos da internet - está coberto de razão. De cabo a rabo. Da maneira como se comporta parte da torcida até a atuação dos "mecenas", a quem chama acertadamente de "investidor". Sabe das coisas. Sua melhor atuação aconteceu na quinta-feira.

Infelizmente, não foi no jogo, mas na coletiva. E pensando bem, nem tão infelizmente assim. Saiu vitorioso na inglória tarefa de fazer o cego enxergar. 

Esse povo, a que chamaremos """mecenas""", quebrou o Atlético. Por duas razões principais: vaidade e política. Há outras, eu chutaria secundárias, mas de qualquer forma não menos importantes: dinheiro e incompetência.



Há CR7. Houve R10. Só esses tipos que se têm certeza (mais do que se acham, aprendi com o Juca) se autointitulariam 4Rs. Também gostam e deixam rolar o termo "mecenas", afinal lhes confere o necessário altruísmo capaz de garantir êxito na política e dividendos na conta-corrente. 

Os tipos que se têm certeza muito comumente acabam por quebrar a banca, pois lhes falta a imprescindível noção da realidade. Em geral, são ricos e mimados.

Pare para pensar na maior dificuldade já enfrentada na vida, digamos, do Rafael Menin. Eu apostaria que foi na infância, naquele dia em que sua "secretária" trouxe do supermercado um Nescau no lugar do Ovomaltine. Maldito leite sem flocos que o pequeno Menin foi obrigado a enfrentar como um bravo guerreiro!

Tão logo os """mecenas""" assumiram o Galo, passaram a destruir sistematicamente a reputação de Alexandre Kalil, que havia salvado o clube da bancarrota, pavimentado um bom caminho para o futuro, e deixado o clube campeão depois de 42 anos na fila dos títulos importantes.

É preciso mágica para lograr sucesso na missão. Nada que o dinheiro não possa comprar, inclusive a rádio e a televisão.

De um lado, banqueiros, megaempreendedores da construção civil, donos de vastas extensões de terra em todo o cinturão que envolve Belo Horizonte.



De outro, um ex-dirigente de futebol que virou prefeito e tentava fazer a coisa certa, inclusive um plano diretor que limitasse a voracidade destruidora dos especuladores imobiliários. "Se espirrar, saúde, papai Menin", dizia grande parte da torcida. E este colunista que vos fala era, e é, acusado de usar o Galo pra fazer política. 

Deu no que deu. O estádio, antes inteiramente quitado, virou uma dívida impagável. O shopping não faz mais cócegas na mitigação do problema. Já se pega dinheiro em banco (adivinha qual) para acertar a folha de pagamento. E pensar que anualmente faziam (fazem) um certo "Galo Business Day" (esses nomes são sempre bons para se pegar trouxas).

Qualquer dia farão o powerpoint do Dallagnol com o Kalil no círculo central - o monstro das contrapartidas.   

Os """mecenas""" sucatearam o Galo a um ponto jamais visto. Só a SAF salva. A SAF que faz o que faz no arquifreguês. A SAF que eles próprios comprarão, na baixa, em alguma medida. 





Ainda que o estado de coisas seja esse, o time, caríssimo para o padrão falimentar em que nos encontramos, podia entregar mais. Não entrega porque nenhum dos 4Rs entende nada de futebol - a grande experiência no ramo vivida por boa parte deles e da turma que os cerca é a queda à Segunda Divisão em 2005.

Contratam um treinador como quem contrata um gerente para as suas empresas: foda-se o que lhe prometemos, se está insatisfeito, passe no RH.

A torcida, ou parte significativa dela, bateu palma pra ver ricaço dançar - e fazer política, e pouco a pouco se apropriar do clube, aparelhar seu conselho, atentar contra a sua história e, por fim, destruir suas finanças e privatizá-lo.

Esse mesmo pessoal ocupou as arquibancadas, substituindo o torcedor pelo consumidor. Pagam para ver o espetáculo. Não havendo um SAC onde se possa reclamar, atiram cerveja no treinador. "Se espirrar, saúde, papai Menin."   

Boa Páscoa, pessoal! Que nos poupe o Coelho. Seremos campeões.