Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Que seja de bom agouro o futuro que enfim chegou!

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Foi bonita a festa, pá, fiquei contente, ainda aguardo renitente um velho cravo para mim. Poderia ser o cravo de alguma chuteira, de preferência a do Paulinho, porque o gramado realmente estava a favorecer o arranca-toco. Mas isso de nada diminuiu a beleza da inauguração. E o cravo do Paulinho estará exposto para sempre no Museu do Futuro, a lembrar do dia em que, ao receber as chaves da casa própria, batemos o Santos. Ninguém menos que o Santos de Pelé.



Uma inauguração aleatória, digamos, porque não teve um Barcelona, tampouco um Peñarol, calhando de ser qualquer um. Mas como há coisas que só acontecem com o Atlético, o acaso nos reservou o time perfeito para o acender das luzes: “o eterno epicentro do futebol”, como disse o meu pai. Melhor: um epicentro capenga o suficiente para garantir a nossa vitória. Uma boa vitória, diga-se. Que seja inspiradora para a temporada que nos resta.

Achei curioso como a grama nos salvou do gol de empate santista, ao fazer escorregar um atacante adversário. E, de novo ela, a grama, foi quem fez vacilar o goleirão dos caras no que seria nosso segundo gol, anulado pelo VAR. Ou seja, é uma grama safada, mas pelo menos joga no nosso time. Do que se depreende que, em pelejas futuras, poderemos contar com seus montinhos artilheiros.

A condição dessa braquiária fez valer ainda mais o nome aqui proposto para o novo estádio, da cepa do ator Daniel de Oliveira – o Terreirão do Galo. Sim, aquele gramado só nos fez lembrar dos velhos terreiros ainda em estado de terrão, com galinhas a ciscar pedrinhas e minhocas. E o galo a reinar, senão absoluto, em confronto com cães sem nenhuma frescura, vira-latas da época em que cachorro mesmo era o doberman e o pequinês.



Outro aspecto importante no rebatismo da “arena” foi o protagonismo de Paulinho, esse filho de Oxóssi. Por duas vezes sua flechada fez história. Eu, que não sou homem de nenhuma fé, a não ser em São Víctor, estou agora em dúvida. Será que na inauguração do Terreiro não tivemos nos orixás a vantagem que outros já conseguiram com figuras mais terrenas, como Wright e Aragão? Achei estranho como a bola adversária não entrava de jeito nenhum, apesar de Everson ter atuado muito pouco. Não precisa fechar o gol quando já se está com o corpo fechado.

Um terceiro ponto, que havia me escapado até o domingo passado, consagra o Terreirão do Galo como o verdadeiro naming right da nossa casa: é só trocar “Mineirão” por “Terreirão”, e todas as músicas da Galoucura podem ser preservadas ipsis litteris. “Domingo, eu vou pro Terreirão, vou torcer pro time que sou fã”, e por aí vai. Ou, ainda, “o Terreirão é nosso, tem que respeitar, Galoucura BH”. Parece que foram feitas pra isso, e que o Mineirão é que estava a guardá-las provisoriamente para esse futuro que enfim chegou.

Esse futuro inaugura um tempo novo. Que seja de bom agouro! E que mesmo ciscando em outros terreiros, como será o caso na peleja de hoje contra o Athlético do Paraguai, que o Galo carregue a reboque a atmosfera de raça e amor que se pôde ver e sentir na própria casa.

Que o Felipão queime a língua de todos aqueles que não acreditaram. Eu mesmo já estou reservando um espeto do churrasco para o meu próprio flagelo. A picanha e a fraldinha para celebrar o Bozo na Papuda. A língua para comemorar o Galo na Libertadores. Oxalá!