Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

A obviedade se descortina: seremos campeões



Há cerca de um mês, cravei o que me pareceu o óbvio ululante: o Galo vai ganhar o Brasileiro. Minha tese se baseava em duas premissas fundamentais: 1. Há coisas que só acontecem com o Botafogo. 2. Há coisas, mas muito mais coisas, que só acontecem com o Atlético.





Cheguei a gravar um vídeo a esse respeito, motivo pelo qual fui tratado pelos capacitistas como “retardado”. Um cidadão apontou resquícios de embriaguez. Um outro sentiu a brisa da cannabis.

Não entendo nada de futebol. Para isso falem com o Mário Marra. Este colunista é pago apenas para incitar a atleticanidade. No entanto, é inegável minha condição de Nostradamus do ludopédio nacional. Ainda mais quando o futuro está a nos esfregar as narinas com sua bola de cristal.

Pois bem, agora está aí a obviedade se descortinando nas barbas do profeta. O universo conspira ao nosso favor como se a gente fosse a ditadura e ele, o universo, fosse o general Augusto Heleno, o Pequeno, ou aquele Villas Boas, o Péssimo. Vamos aos fatos – os fatos vindouros.

É ponto pacífico que venceremos o Coritiba no Terreirão amanhã, sempre com a participação de Oxóssi, o nosso José Roberto Wright – enfim jogamos com 12, é menos que os 14 do Flamengo mas já é alguma coisa. Cravaria um 5 a 0 sinistro, de modo a panicar o resto da turma. (É de importância capital esse apavoramento a tal altura do campeonato, porque, ao fazer as contas, o adversário já contabiliza três pontos perdidos – e não há melhor maneira para de fato perdê-los.)





À nossa frente na tabela encontra-se um Fluminense embasbacado com a final da Libertadores, mais do que se achando, como diria o Juca, tendo-se certeza. Quando jogar com a gente, imediatamente antes do jogo com o Boca, formará o time com o roupeiro, o cortador de grama e o sub-15. Só tem alguma chance caso escale seus advogados.

Mais um degrau, e lá está o Flamengo, coitado, campeão de nada, um ano inteiro no cheirinho, a torcida só assistindo o rival, dirigente mordendo virilha de torcedor, tiro, porrada e bomba. Esse daí aniquilaremos com o ódio curtido por 40 anos no carvalho dos nossos corações – nada como experimentar por 90 minutos como se sente um bolsonarista em tempo integral.

Escalando a tabela como Robert De Niro escala a montanha em A Missão, chegamos ao Palmeiras. Dona Leila está triste. Abel, como se fosse um Caim, será defenestrado nos próximos dias. A gota d’água será a vexaminosa derrota para o Atlético na 27ª rodada, quando o Botafogo já estará com aquele orifício em mãos.





Galgando mais um andar, o Grêmio. Seu natural declínio acontecerá depois de derrota para o América no Independência. Ninguém perde para o América impunemente. Eles até vencerão o Botafogo, visto que este seguirá sua trajetória rumo ao quarto técnico e o segundo subsolo.

O Bragantino é um mistério. Parece um penetra em recepção de casamento: não se sabe como chegou onde está, quem o conduziu e por que não foi barrado. A única certeza é que será expulso alguma hora. O pai da noiva será o Galo, na rodada 29.

Por fim, ele, o Botafogo. A essa altura já estará evidente a coisa que aconteceu: o Botafogo perdeu o campeonato. O Botafogo conseguiu. Ainda na liderança, chamaram o português de burro (quem nunca?). Lage não se sustentou. Lage caiu. E como ele, toda a casa.

Seremos campeões e o Crüzeiro vai cair. Com o empurrãozinho nosso na 28ª rodada – tá valendo bater em bêbado, desde que ele não seja eu.