BOLA MÚNDI

Caldeirão dos Bálcãs pode voltar a ferver em eliminatória da Euro'2020

Uma intrincada trama geopolítica entrará em campo: a até outro dia quase inimaginável classificação do Kosovo e todas as implicações que ela pode ter

Frederico Teixeira
Na atual eliminatória da Euro, os kosovares foram batidos apenas pela Inglaterra: 5 a 3. É a única derrota da seleção desde outubro de 2017 - Foto: ADRIAN DENNIS/AFP


Com os principais campeonatos paralisados para mais uma data Fifa, as eliminatórias da Euro’2020 é que roubarão a cena nesta semana. E não só pelos confrontos nas quatro linhas. Uma intrincada trama geopolítica entrará em campo: a até outro dia quase inimaginável classificação do Kosovo, um dos mais jovens países do mundo. E todas as implicações que ela pode ter.

Para entender a situação, é preciso resgatar o passado recente dos Bálcãs. Na década de 1990, confronto entre albaneses (maior etnia de Kosovo) e nacionalistas sérvios mataram mais de 140 mil pessoas. A guerra terminou em 1999, mas o Kosovo só declarou sua independência em 2008, fato até hoje não reconhecido pela Sérvia (nem pelo Brasil).

E dentro de campo? Kosovo só passou a integrar a Uefa a partir de maio de 2016. E, de início, parecia mais um saco de pancadas. Nas Eliminatórias da Copa'2018 foram nove derrotas e um empate.
Mas a situação mudou depois que ‘repatriou’ atletas com raízes albanesas-kosovares cujas famílias haviam emigrado durante a guerra. Na atual eliminatória da Euro, os kosovares foram batidos apenas pela Inglaterra, em um louco 5 a 3. Detalhe: única derrota desde outubro de 2017. Neste período, foram 12 vitórias e cinco empates.

A questão é que se não conseguir vencer a República Tcheca hoje, Kosovo dificilmente ficará com uma das vagas diretas do Grupo A. Assim, terá que disputar vaga via playoffs da Liga das Nações... E possivelmente contra Geórgia e Bielorrússia, países que também não reconhecem a independência kosovar.

Caso esse cenário se confirme, as partidas serão consideradas de alto risco. E aí, será muito mais do que só futebol. A classificação será quase como uma autoafirmação para o país. Os comandados do técnico suíço Bernard Challandes até tentam desvincular a situação política, mas é algo impossível. O caldeirão dos Bálcãs pode voltar a ferver...

Agora vai?

Cada vez mais distante do torcedor, a Seleção Brasileira entra em campo amanhã, na Arábia Saudita (!), para encarar a arquirrival Argentina e tentar acabar com incômodo jejum: mesmo contra equipes de menor porte, não venceu ninguém desde o título da Copa América, em julho. Foram empates com Colômbia, Senegal e Nigéria e derrota para o Peru. Sem Neymar, que se contundiu diante dos nigerianos, Tite segue fazendo testes, mesmo sabendo que os hermanos contarão com a volta de Messi. Na terça-feira, o adversário será a Coreia do Sul.
Depois, o Brasil só volta a campo em março de 2020 para o início das Eliminatórias para a Copa’2022.

Decisão antecipada

Donos das melhores campanhas do Mundial Sub-17, com 100% de aproveitamento, Brasil e França decidem hoje, em Brasília, uma vaga na final. Nas quartas de final, enquanto os franceses detonaram a Espanha (6 a 1), o Brasil despachou a Itália (3 a 1). O destaque dos Bleus é o meia Auochiche, que já estreou até no time principal do PSG, cotado a bola de ouro do torneio. Na outra semifinal, México e Holanda medem forças. Seja qual for o resultado da Seleção Brasileira, o trabalho do técnico Guilherme Dalla Déa tem de ser valorizado. É bom lembrar que, em março, a equipe nem sequer conseguiu se classificar ao hexagonal final do Campeonato Sul-Americano.

Quem se importa?

Chaga que insiste em proliferar também nas arquibancadas mundo afora, o episódio de racismo envolvendo Taison e Dentinho, do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, comprova como quem comanda o futebol mundial segue fazendo vistas grossas ao problema. A Uefa teve a ousadia de dizer que as punições deveriam ser definidas pela Federação Ucraniana. Enquanto os engravatados da Uefa (em sua maioria brancos) não levarem a situação a sério, os casos seguirão se multiplicando. Sendo assim, só nos resta esperar uma mobilização de jogadores: e se todos deixassem o campo, em solidariedade aos brasucas? Infelizmente, por enquanto, isso me soa apenas como utopia...

Super sincero

Restando menos de um mês para o início do Mundial de Clubes, que será disputado no Catar, ainda falta a definição dos representantes da América do Sul (Flamengo ou River) e da Ásia (Urawa Reds ou Al Hilal). Mesmo assim, o alemão Sebastian Klopp, técnico do Liverpool, não parece muito preocupado.
Nesta semana, ele admitiu que não estuda os adversários: “Não acompanho muito o futebol brasileiro, argentino, mexicano ou árabe”. Para muitos, pareceu um pouco de presunção. Outros viram mais uma prova de que os europeus não se importam muito com a competição. Seja como for, os Reds seguem sendo favoritos. Em tempo: os outros participantes definidos são Espérance (Tunísia), Monterrey (México), Hienghène (Nova Caledônia!) e Al-Saad (Catar).

Mas já?

Além do crescimento contínuo do interesse do público, a liga de futebol dos Estados Unidos (MLS) tem se notabilizado por lançar promessas. Algumas delas são até surpreendentes. O San José Earthquakes, que nesta temporada não se classificou  aos playoffs, assinou contrato profissional com um goleiro de 14 anos! Com ascendência mexicana, Emmanuel Ochoa, que já tem 1,88m de altura, treina com a equipe principal. Seu mentor é ninguém menos do que o argentino Carlos Roa, titular da Argentina na Copa de 1998, e treinador de goleiros do San José. Se Ochoa vai vingar, nem ele sabe...
 
 
De olho

Karamoko Dembélé

Descendentes de marfinenses, o atacante Karamoko Dembélé, de 16 anos, nasceu em Londres, mas pouco depois se mudou com a família para a Escócia. Aos 5 anos, começou a jogar no Villa Park, mas o clube ficou pequeno para ele. Aos 10, já estava no Celtic, sempre atuando em categorias superiores (com 15, atuava no Sub-20!). Na base, chegou a defender as seleções de Escócia e Inglaterra. Em breve, terá que fazer a escolha definitiva. Em julho, passou para o profissional do Celtic. Tem contrato até junho de 2021, mas dificilmente não sairá para um mercado mais forte.


.