“O Leão”, como Nigel Mansell era conhecido no mundo do esporte, foi um dos grandes pilotos da Fórmula 1. Competia alucinadamente, sem tirar o pé do acelerador. Numa corrida em 1984, nos Estados Unidos, entrou para a última volta liderando com folga, já acenando para o público antes mesmo de completá-la. Na reta final, seu combustível acabou. Desceu do carro, passou a empurrar o carro, mas, sem fôlego, caiu desmaiado na pista, sem conseguir cruzar a linha de chegada. Se por um lado protagonizou uma das cenas mais emocionantes do automobilismo, para especialistas e equipes, ele plantou a desconfiança quanto à sua competência.
Na noite do último domingo, enquanto voltava com meu velho pai do bar, cabisbaixo, ainda tentando entender a cabeceada de Edílson como se fosse um ornitorrinco mergulhando num lago e o pé do exausto Fabrício Bruno desviando a bola para o fundo do gol, no último minuto daquela que seria a vitória do fim de um jejum fora de casa, lembrei da falta de combustível de Nigel Mansell na reta final e suspirei: “Mais do que fôlego, o que falta ao meu Cruzeiro é confiança”.
Dos quatro 45 minutos de Rogério Ceni à frente do Cruzeiro, em três deles o time mostrou o dedo do treinador. Ao contrário do Manobol, que obtinha seus méritos, títulos e xingos da torcida com um futebol em que priorizava a defesa para só depois atacar, o novo comandante azul fez os adversários – Santos e CSA – se preocuparem conosco. Marcou um tento em cada um desses três primeiros 45 minutos e se manteve no ataque. Porém, no último deles, surgiu algo novo: a falta de preparo físico do time para suportar um esquema agudo, de sufoco ao oponente, algo parecido com o verdadeiro DNA da Academia Celeste. O pior do empate em Maceió não foi ter deixado o triunfo escapar pelas mãos, mas, sim, ter evitado a retomada da confiança que jogadores, comissão técnica, funcionários do clube e torcedores começavam a trilhar.
Rogério Ceni já provou que colocará o time para atacar. A questão do preparo físico caberá aos seus auxiliares resolver, mas seu maior desafio a partir de domingo será criar uma sequência de resultados capaz devolver ao Cruzeiro a confiança, a tranquilidade para ousar. Em outra situação, por exemplo, ele talvez não lançaria Edílson na reta final contra o CSA. Teria acreditado num pulmão jovem como Weverton.
Dentro do elenco, essa sequência também traria confiança. Muitos jogadores ainda precisam dela para mostrar futebol (ou ter um momento tranquilo para tentar mostrar). Ajudaria também se medalhões, como Fred, ao contrário de xingar por um passe errado, como fez algumas vezes no domingo passado, incentivasse. Estrelismo de lado, atleta consagrado e com rendimentos milionários como ele, nesse momento delicado, no mínimo, deveria usar sua experiência para saber que os companheiros precisam mesmo é de confiança.
Aos que bateram palma para os xingamentos dele, ao “vão ter de engolir” de seu empresário e à nebulosa multa de R$ 10 milhões, torço para que não se arrependam se, no início de 2020, assistirem a “vítima do mimimi” se declarar pelo Fluminense e para lá seguir, deixando aqui a tal multa que “empresários amigos iriam pagar”.
No campo, fora dele e nos bastidores do clube, a meta é uma só: ter confiança para ser Cruzeiro. A implantação da transparência para investidores e sócios-torcedores voltarem a confiar. A “vergonha na cara” do Conselho Deliberativo para que excelentes profissionais da retaguarda do clube, que tanto fazem pelo Cruzeiro, possam trabalhar sem medo, confiantes de que não serão substituídos ou censurados por apadrinhados políticos.
Quanto à retomada da confiança por parte de nós torcedores, essa virá naturalmente, pois no seu caminho existe um ingrediente mágico: a paixão por esse clube centenário e multicampeão.
Temos total confiança na força dessa camisa, que se honrada por quem a veste, nenhum adversário terá fôlego para suportar seu peso.