A camisa do Cruzeiro é a mais bonita do mundo. Fato indiscutível. Cantada por poetas. Imortalizada na frase do meu amigo Luciano José: “É o único time com a camiseta estampada no céu”. A nossa pele azul, com as cinco estrelas bordadas no coração, encanta por sua beleza e simbolismo. É capaz de transformar pessoas em torcedores antes mesmo de assistirem – das arquibancadas – ao escrete envergá-la em campo.
Foi assim em Paris, onde o francês Jean Marc viu uma foto da Academia Celeste a lutar no campo congelado da Alemanha, contra o Bayern, no Mundial de 1976. Apaixonou-se perdidamente, muito antes de ser líder de uma torcida organizada em Belo Horizonte. O mesmo ocorreu em Bom Despacho, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, quando a menina Salomé passou a adotá-la como uniforme. Muito antes de se tornar a maior torcedora de futebol de todos os tempos.
Quando se tem uma unanimidade, é sempre preciso mudar o início de qualquer questionário sobre “a mais bonita”, “o mais saboroso”, “a preferida”, entre outros adjetivos. Por exemplo, quando se fala em maior jogador, sempre iniciamos a pergunta com um: “Depois do Pelé...”.
Portanto, pergunto-lhe: depois da camisa do Cruzeiro, qual é a mais bonita?.
Enquanto você pensa (se é que não respondeu de bate-pronto), cravo a minha resposta, com toda a certeza de minha humilde paixão. A segunda camisa mais bonita do mundo é a do Palestra Itália. Manto moldado em verde para vestir os jogadores do clube criado em 2 de janeiro de 1921, na Rua Caetés, no Centro de Belo Horizonte.
A camisa verde honrou nossos primeiros 21 anos. Desse Palestra nascemos. A origem verde e branca está na história dos imigrantes italianos vindos de uma região da Europa destruída pela fome. Gente “importada” pelas velhas elites para substituir a mão de obra escrava. No caso de Minas Gerais, povoaram primeiramente o interior.
Já ao final do século 19, nova leva lotou navios, e os que não sucumbiram às mazelas da longa travessia do Oceano Atlântico chegaram aqui para, junto aos negros, construir a nova capital mineira. Famílias de camponeses, operários, artesãos e pequenos comerciantes. Foram criando laços, sendo aceitos ou não, ousando montar um time de futebol, o Palestra Itália.
Esse, aos poucos, se colocou como oponente dos clubes da aristocracia, como o América e o Atlético de Lourdes, naquele tempo recém-aglutinado ao Clube Higiênicos.
Foi também com a camisa verde, os calções brancos e as meias vermelhas que vimos surgir os primeiros ídolos de nossa história. Gente como Geraldo II, Piorra, Bengala e a trinca da família Fantoni: Ninão, Nininho e Niginho. Uma geração estupenda, precursora com galhardia do manto sagrado azul de estrelas bordadas, nascido em 1942.
Pensei no Palestra e na camisa do Cruzeiro neste momento onde outra unanimidade domina os bastidores e as resenhas: o desejo por uma mudança radical do estatuto do clube. Aproveito para deixar um pedido, singelo e quase utópico. Crie-se um artigo na nova carta estatutária instituindo a obrigação perpétua de a camisa do Palestra Itália ser – no mínimo – o terceiro uniforme de qualquer nova coleção do manto sagrado.
O desejo seria de propor o “segundo uniforme” à camisa palestrina, mas haveria justa controvérsia. Afinal de contas, como não exaltar também a camisa branca, de estrelas azuis bordadas? A das finais de 1966, 1992, 1993 e de tantos outros embates épicos.
Ser Cruzeiro é ser Palestra. É ter vencido a opressão e os preconceitos. É fazer da esperança de um novo tempo o combustível para se tornar o maior. É ser o maior do presente, respeitando a história do passado.
Julgue-me, mas a segunda camisa mais bonita do mundo é a do Palestra.