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Thiago Neves, o elo do Cruzeiro de 2019 com o Atlético de 2020

Ao contrário de nós, cruzeirenses, a diretoria rival já conhecia bem a postura problemática do jogador ao tentar sua contratação e depois recuar


16/09/2020 04:00

(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press %u2013 10/11/19)
(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press %u2013 10/11/19)

 
 
A chegada dos anos de 1960 era prenúncio de um novo ciclo vitorioso no Cruzeiro, como havia sido nos tricampeonatos de 28/29/30 e 43/44/45. A eleição de Felício Brandi foi a pá de cal sobre as investidas da ala de conselheiros, desejosa pelo fim do Departamento de Futebol. Aquele que seria o último presidente do clube nascido na Itália também daria sequência ao legado de palestrinos e cruzeirenses, que, literalmente, doaram tempo e dinheiro para ampliar o patrimônio da instituição amada.
 
Numa manhã de 1962, como de costume, na sua sala da fábrica das Massas Orion, na região da Lagoinha, em Belo Horizonte, Felício aguardava a chegada de um atacante do elenco celeste para a renovação de contrato. Ele planejava manter alguns jogadores experientes do escrete tricampeão de 59/60/61, para se juntarem aos jovens contratados e promovidos do time juvenil. Exatamente a mescla de onde sairia a Academia Celeste de 1966.
 
Foi avisado da chegada do atacante. Pediu que entrasse. Ofereceu a cadeira à frente. Cumprimentaram-se. Trocaram impressões sobre a última peleja da temporada. No centro da mesa, o papel com a pedida do atleta, cuidadosamente colocado em evidência. Felício o pegou, levantou, pareceu ler novamente as cifras antes de soltar: “Esse valor de luvas? Você quer que eu venda o campo do Cruzeiro para te pagar?”. Silêncio, gaguejos e lamúrias se seguiram com a porta fechada.
Minutos de apreensão depois, ela se abre. O jogador e Felício trocavam sorrisos. Despedidas efusivas e juras de amor ao time estrelado. O novo contrato estava assinado por ambos, num valor muito menor do que o pedido.
 
A fama das renovações de contrato de jogadores com o ex-presidente tornou-se folclore dentro do Cruzeiro. Na mesma proporção, os próprios ex-atletas, personagens dessas histórias, reconhecem a destreza do saudoso mandatário para gerir com altivez o clube.
 
Para Felício Brandi, o Cruzeiro Esporte Clube estava acima de tudo. Não se rendia à passionalidade da torcida. Ele queria conquistá-la e ampliá-la. Guardava respeito e reconhecimento a todos os jogadores e treinadores, mas, ciente de sua missão, jamais se permitia curvar aos caprichos deles. O dirigente defendia a instituição do Barro Preto dia após dia, detalhe por detalhe, centavo por centavo.
 
As mentiras, passadas de pano e ódio velado aos cruzeirenses, incrustados na toupeirada do episódio Thiago Neves, mais um ex-atleta do Cruzeiro que machucou a Turma do Sapatênis e acertou com o Atlético de Lourdes logo em seguida, me fizeram sentir saudade de ex-atletas e ex-dirigentes como os contemporâneos de Felício Brandi.
 
Se hoje o desprezo por Thiago Neves une o sentimento de cruzeirenses e atleticanos de Lourdes, é preciso ser sincero com uma diferença sorrateiramente esquecida nas análises de boleiros. Quando ele foi contratado em 2017 pela gestão Gilvan de Pinho Tavares no Cruzeiro, não havia nenhum indício de sua índole.
 
Já Sérgio 6a1 Câmara e seus diretores, ao contrário de nós, cruzeirenses, já conheciam bem a postura do jogador para com o povo mineiro (quem se esqueceu do post sobre Brumadinho?), com a Turma do Sapatênis e com as imagens do Atlético de Lourdes e do Cruzeiro. Mesmo assim, prevaleceu, como disse um diretor de lá, “o pedido do técnico Sampaoli” e a satisfação interna por terem ouvido do pseudoatleta “que iria correndo” aceitar o convite. Parafraseando o escrito de um colunista atleticano na última semana, a tal pós-verdade, quando na história do outro, torna-se refresco (ou esquecimento seletivo).
 
Se vivo estivesse, talvez o maior presidente da história do futebol mineiro, Felício Brandi, no seu exemplo de prezar pela imagem de um clube, primeiro, teria impedido o surgimento de gente como Wagner/Itair/Serginho e a permanência de Thiago Neves até o desastre de 2019. Mas, generoso, certamente ele também teria alertado a diretoria do Atlético de Lourdes sobre os efeitos colaterais dessa obsessão por “cruzeirar”.

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