Fábio, Muralha Azul,
Tomei a liberdade de pegar trechos de seu desabafo, em aspas, para construir um pedido. Vamos a ele.
- “O que dizer?”.
Fábio, mesmo com a garganta entalada por um soluço, pela raiva e na incerteza quanto ao futuro, abro dizendo sobre o quanto você é um ícone incontestável da história centenária do Cruzeiro Esporte Clube. A sua carreira é mais vitoriosa do que qualquer outro clube em Minas Gerais. Isso é gigantesco! Mas, eu, simples torcedor que sou, também não me furto a dialogar sobre esse atual momento turbulento.
- “Cobranças sempre existiram na minha vida, respeito, leio, escuto, me cobro, fico pensativo que por mais que você faça nunca será o suficiente, mas não desisto”.
Leio, escuto e fico pensativo após ler esse trecho de seu desabafo. Ele me prova o quão cruzeirense você se tornou. Entende perfeitamente o DNA da Nação Azul: o da cobrança pelo futebol arte, de vitórias e conquistas. Eu, você e qualquer cruzeirense temos consciência do quanto nunca vamos nos dar por suficientes. O fracasso desportivo e a tremedeira de caráter pertencem a outra agremiação mineira, não ao Cruzeiro.
- “Não meçam ou julguem a dor que sinto em ver o Cruzeiro como está. A minha vida nesses últimos 16 anos esteve entrelaçada ao Cruzeiro, então saibam que sinto sim a dor de um torcedor”.
Não me cabe julgamentos, Fábio. A sua declarada consciência sobre a dor desse momento, me sinaliza uma abertura da sua parte para que sigamos nessa troca de desabafos, porque ainda tenho um pedido a fazer.
- “Não vou expor o que faço internamente, não pensem que não há cobranças, não pensem que não há esforços, não pensem que não sofremos pelo momento, tem coisas que falo, mas tem outras que não precisam ser expostas”.
Expor e prejudicar o Cruzeiro é uma tática de quem jamais conseguiu vencê-lo. Mas, Fábio, o silêncio também não é o caminho. O desastre de 2019 nos ensinou, não é mesmo?
- “Peço a Deus por esse clube, faz parte da minha vida, estou triste em ver o Cruzeiro nessa situação nessa posição. Luto e busco uma direção para sairmos dessa situação todos os dias, tenho amor e gratidão enorme pelo Cruzeiro e ninguém vai tirar esse sentimento”.
Respeito a sua crença e forma de buscar força espiritual para dar sequência ao seu legado cruzeirense, mas eu não peço a Deus. Prefiro pedir a vocês, jogadores, homens necessariamente pecadores, de carne, osso, chuteira aos pés e estrelas ao peito. No futebol, é o escrete quem tem o “poder divino” de impedir o roubo da gratidão do torcedor por amar um clube.
- “Não expor os bastidores, não quer dizer que não está havendo cobrança, vontade, garra e vergonha na cara. Vou sempre lutar pelo Cruzeiro”.
Desde 2 de janeiro de 1921, quando foi fundado o Palestra Itália para representar os jogadores e a torcida dos trabalhadores de Belo Horizonte (italianos ou não), “luta” sempre foi a nossa única arma para superar as desigualdades. Por isso, é exatamente nos “bastidores” da história contada pelas classes, clubes e torcidas da elite (essas mesmas que há décadas se alimentam do desejo sórdido por nos destruir) que estão escondidos os episódios de superação que nos transformaram em gigantes, no campo, na índole e na história.
Assim, Fábio, chego ao fim dessa troca de desabafo para finalmente fazer o meu pedido. Vá até aos bastidores e grite alto para o escrete: nós, cruzeirenses, estamos ávidos por ver nos olhos dos jogadores, líderes ou jovens, a cobrança, a vontade, a garra e a vergonha na cara. Mais do que gols, na próxima partida, é isso que queremos assistir.
Façam isso e sejamos Cruzeiro, todos nós, mais uma vez por todas!