“Bola nossa” vindo do árbitro da partida. Desligar refletores quando estiver em apuros no campo de jogo. Ligar alto-falante para abafar o incentivo da torcida adversária frente ao silêncio (ou cântico homofóbico) dos seus. E, agora, liberar presença de torcidas nas arquibancadas, coincidentemente, às vésperas da preferência clubística de quem tem a caneta para decidir por tal medida. O hilário jeitinho sapatênis de ser, ao longo da história, tornou-se um traço cultural.
Na última semana, enquanto em Brasília um lunático extremista arregava depois de supostamente cometer seguidos crimes de responsabilidade em manifestações contra a democracia, em Belo Horizonte, outra arregada – anunciada há quase um mês – também se concretizava.
No dia 23 de agosto, menos de 72 horas após apenas 4.223 cruzeirenses se dirigirem ao Mineirão para assistir ao jogo contra o Confiança, o prefeito da cidade, mantendo o personagem criado em sua campanha eleitoral, anunciava à imprensa o novo veto à presença de público nos estádios da capital mineira.
A pose durona em frente às câmeras não demorou muito para se revelar macia longe delas. Em 25 de agosto, ou seja, dois dias depois, o repórter Lucas Ragazzi, da Rádio 98 FM, dava o furo de reportagem: em reunião com a Turma do Sapatênis, no gabinete oficial da Prefeitura de Belo Horizonte, o servidor público máximo dos belo-horizontinos teria garantido que se Atlético de Lourdes e Palmeiras (marcado para o então longínquo 28 de setembro) fosse naquele momento, ele autorizaria a presença de torcida no estádio. Ou seja, a nova proibição, bradada frente aos jornalistas em 23 de agosto, teria sido apenas no “calor do momento”.
Veio o dia 9 de setembro. E nele, a notícia que já havia sido antecipada pelo prefeito às torcidas organizadas do Atlético de Lourdes, dessa vez, em segunda mão, foi comunicada à população e ao eleitorado de Belo Horizonte: a presença de público nos estádios estava realmente permitida. Ironicamente, apenas dois dias úteis após o Cruzeiro levar o confronto contra a Ponte Preta para Sete Lagoas. Mas, veja só... bem em tempo dr a Turma do Sapatênis ter o direito de ir à Toca da Raposa III assistir à tal partida contra o Palmeiras.
Quanto à postura firme do prefeito de Belo Horizonte durante a pandemia, rendo minha concordância. Porém, a condução dele com relação ao episódio dos estádios lhe caiu bisonha e com jeitinho sapatênis de ser, assim como também foi na flexibilização do comércio apenas às vésperas das eleições de 2020.
Mas deixando um pouco a política e a administração pública de lado e voltando apenas à resenha, para quem realmente conhece a história do futebol mineiro, infelizmente, esse preâmbulo deve ser entendido como a analogia ao árbitro, frente a um pênalti escandaloso, levantando os braços, movimentando-os freneticamente e gritando: “não foi nada! Segue o jogo”.
Há quem seja da opinião de que ainda é uma insanidade permitir a presença de qualquer número de torcedores nos estádios de futebol, mesmo com o limite de 30% da capacidade do espaço físico. Outros defendem a abertura limitada, alegando que a relação de torcedores por metro quadrado nas arquibancadas não difere em nada da proporção dentro de um restaurante ou numa “baladinha” já autorizada, por exemplo. E claro, existem os lunáticos do 7 de Setembro, para os quais a pandemia é só uma arma química comunista.
Certo é que o Cruzeiro optou por deslocar-se até a Arena do Jacaré, da Empresa Patrocinadora do Aplicativo de Ônibus ou do 6 a 1. Cada um escolhe o nome de sua preferência. Vencemos a primeira contra a Ponte Preta. Amanhã, estaremos por lá novamente, no confronto com o Operário. Espero, dentro da minha convicção cidadã, que TODOS NÓS respeitemos os protocolos de segurança quanto à COVID-19.
Já para o pós-Atlético de Lourdes e Palmeiras do 28 de setembro, o prefeito que prepare seu personagem, discurso e reuniões.