Fábio possui mais conquistas da Copa do Brasil e do Brasileirão do que todos os demais clubes de Minas Gerais – reunidos. Mas não são só títulos.
O melhor goleiro do Brasil é também o mais premiado pela mídia esportiva mineira, mesmo ela sendo dominada, na sua maioria, por membros da elite econômica de Belo Horizonte, sabidamente, torcedores dos clubes nascidos da oligarquia, leia-se América e Atlético de Lourdes. Mas não são só prêmios.
É possível entender como ele conquistou o respeito mesmo de quem torce por outros times brasileiros. É possível entender como Fábio tem também um lugar no coração dos cruzeirenses que ainda preferem Raul, Dida ou Geraldo II como o arqueiro de todos os tempos do Cruzeiro/Palestra.
Nos últimos três anos, Fábio esteve tanto no elenco do desastre de 2019, provocado por uma organização criminosa, quanto no remendo de farrapos, burrices e vaidades que significou os elencos de 2020 e 2021.
Não seria nada nobre entrar no mérito sobre a sua parcela de culpa nesses episódios exatamente no momento onde se buscar exaltá-lo. Por respeito, me guardarei o direito de não entrar neste "porém".
Mas vou quebrar uma regra imposta por mim a mim mesmo. Não sou muito afeito à corneta para escalar times ou mesmo pedir - como torcedor de arquibancada que sou - a contratação do jogador A ou B.
Porém, como se aproxima o fim da (vexatória) temporada de 2021, vou me permitir tergiversar, pois se festa teremos para a Muralha Azul dos 1.000 jogos, que ele tenha ao menos "convidados" dignos do feito a se comemorar.
Quem deve estar no elenco de 2022 que irá conduzir Fábio ao seu milésimo jogo com o manto sagrado e também cumprirá a tarefa de levar o Cruzeiro de volta à Série A?
Começo o papel de corneteiro exatamente pelas traves. É fundamental pensar e preparar um substituto para Fábio. Sem desmerecer seus atuais reservas, claramente, não estão à altura do desafio gigantesco que será substituir um ídolo. Tecnicamente e principalmente, psicologicamente.
É bom lembrar da saída de Dida, ao final de 1998. O Cruzeiro passou a temporada de 1999 patinando entre a promessa Rodrigo Posso e Maizena. André, que se tornaria titular absoluto, ainda passou um bom período entre altos e baixos, até se firmar na temporada de 2000. Ou seja, trazer um novo e experiente goleiro já para o início da próxima temporada precisa estar nos planos.
Assim como também colocar fim aos tempos de uma zaga composta por cabeças de bagre, como os zagueiros do elenco atual. A bola não pode chegar toda a hora pronta para um atacante adversário finalizar de dentro da área, à espera de defesas inacreditáveis de Fábio.
Laterais, meio-campistas e atacantes dispostos a colocar o Cruzeiro de volta ao futebol mortífero como era o de Luxemburgo em 2003, que decidia as partidas já no primeiro tempo. Ou o de passes rápidos e verticais, como o de 2013 e 2014.
É isso que Fábio merece para quando atingir a marca dos 1.000 jogos. Afinal de contas, depois do Cruzeiro, nenhuma instituição em atividade no futebol fez mais por Minas Gerais.