Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Mineirão, palco do futebol, casa do Cruzeiro, diz 'não' ao torcedor


Bruno Bueno*

Domingo é dia de lotar o Mineirão contra o Grêmio... Não, não, o jogo não é no Mineirão, que sempre foi a casa do Cruzeiro e da torcida cruzeirense. O duelo entre os dois times mais copeiros do Brasil, que facilmente atrairia 40 mil pessoas ao Gigante da Pampulha, será no modesto e desconfortável Independência. O estádio construído com dinheiro público para receber jogos de futebol não poderá receber um jogo de futebol, pois vai abrigar uma série de shows musicais.



Não me lembro, quando o Mineirão era administrado pela velha Ademg, de vivenciarmos a aberração de um palco público do futebol vetar um jogo do time de maior torcida do estado por causa de um show. É como se o povo de Beagá fosse proibido de passear, namorar ou levar os filhos para um piquenique no Parque Municipal porque o espaço vai sediar um torneio de golfe.

Mas não é só isso. Jogar no Mineirão ficou muito caro para os times mineiros, que são exatamente a razão de o estádio existir. Conforme dito por Ronaldo Fenômeno, a experiência de jogar no Gigante da Pampulha, do ponto de vista financeiro, tem sido “muito ruim”.

Do ponto de vista do torcedor, os ingressos ficaram mais caros, o campo diminuiu de tamanho, mais de mil vagas de estacionamento foram suprimidas, as árvores ao redor do estádio viraram concreto, o Cruzeiro é frequentemente impedido de jogar lá e, quando joga, o custo é altíssimo. E pensar que todo esse pesadelo do torcedor foi justificado pela realização de seis míseros jogos da Copa, que durou 30 dias, incluindo, de lambuja, o maior vexame de todos os tempos da Seleção Brasileira.



Falando do jogo nas quatro linhas, o duelo entre Cruzeiro e Grêmio tem capítulos memoráveis que precisam ser recordados. Nossa primeira Copa do Brasil, em 1993, foi vencida em cima deles. Roberto Gaúcho e Cleison foram responsáveis pelos gols daquele inesquecível 2 a 1. Não fosse por aquela conquista, hoje os gaúchos teriam seis Copas do Brasil, e nós, cinco.

Em 1997, o bi da Libertadores passou por vitórias decisivas sobre os gremistas. Na fase de grupos, perdemos em BH, mas vencemos em Porto Alegre. Nas quartas, tivemos convincente vitória por 2 a 0 no Mineirão. Na volta, o gigante Fabinho Guerreiro – que junto com Ademir e Douglas compõe a trinca dos maiores volantes que já vi atuar no Cruzeiro – abriu o marcador aos 15 do segundo tempo, em um Olímpico lotado. O gol obrigou os gremistas a fazerem mais três para levar aos pênaltis. Fizeram apenas dois.

Tivemos outros jogos enormes entre as duas equipes. O 3 a 0 do Brasileirão de 2013, em BH, praticamente assegurou o tri, sacramentado em Salvador na rodada seguinte. Coincidentemente, em 2014, outra vitória heroica contra o mesmo adversário (2 a 1, na capital gaúcha) antecedeu a conquista do tetra, desta vez contra o Goiás, no Mineirão. E antes da conquista do penta da Copa do Brasil, em 2017, eliminamos o mesmo Grêmio nos pênaltis, nas semifinais.



Que neste domingo os comandados de Pezzolano sigam evoluindo e apresentem o bom futebol visto em Chapecó. O triunfo pode nos assegurar a liderança da mais disputada Série B de todos os tempos. Apoio da torcida não vai faltar.

Por fim, não posso deixar de compartilhar o estranhamento que o atual panorama do futebol brasileiro causa em qualquer ser que entenda minimamente do esporte: os quatro primeiros da Segundona são os tradicionais Cruzeiro, Grêmio e Bahia, além da Chapecoense. Por outro lado, no G4 da Série A, à exceção do líder, Corinthians, os integrantes são clubes modestos no quesito grandes títulos: Bragantino, Coritiba e Atlético de Lourdes.

*Jornalista, belo-horizontino, residente em Brasília, cruzeirense nas boas e nas más. Escrevendo esta coluna a convite do jornalista Gustavo Nolasco