Paulo César Borges, Paulo Roberto, Célio Lúcio, Luizinho e Nonato; Douglas, Boiadeiro, Luís Fernando Flores e Betinho; Renato Gaúcho e Roberto Gaúcho. O time bicampeão da Supercopa Libertadores da América de 1992. Escalamos como num recital sincronizado, eu e o amigo Marcelo Otoni, quando nos encontramos para a resenha da pós-peleja histórica contra o Criciúma, ainda na Esplanada do Mineirão. Cravamos: esse foi o maior time do Cruzeiro que vimos jogar. Lamentamos apenas o fato de esse escrete ter atuado junto por tão pouco tempo, menos de seis meses, tamanha era sua elegância em jogar futebol e para gerar goleadas avassaladoras de 6, 7, 8 a 0.
Eufórico com “o dia de glória”, me despedi da família Otoni com um abraço. Foi quando me dediquei a uma nova reflexão provocada por minha prosa com Marcelo, mas principalmente por cena inesquecível que presenciei minutos antes, ainda dentro do Gigante da Pampulha.
Logo após os jogadores deixarem o gramado e entrar pelo túnel e a Nação Azul iniciar a sua saída para derramar a festa pela cidade, o comandante Paulo Pezzolano caminhou até próximo da arquibancada já quase totalmente vazia. Pegou seu filho Manu, o levou até o colo e, calmamente, seguiu até o meio do gramado.
Sorriso de pai orgulhoso da história que está construindo, ele apontou para a arquibancada e disse algo ao pé do ouvido do garotinho. Imediatamente, lembrei-me de quando olhei para o mesmo ponto do estádio, num domingo de 2019, e vi outros torcedores indo embora, chorando, na partida contra o Palmeiras.
Enxuguei as lágrimas que havia derramado. Aliviado, perguntei a mim mesmo: “E esse Cruzeiro de Pezzolano e do acesso, em qual parte do ‘maior time que eu vi jogar’ ele estará?”
Matturio Fabbi, primeiro treinador de ofício da nossa história e tricampeão pelo Palestra Italia. Os irmãos Moreira – Airton e Zezé – levando o Cruzeiro a apresentar o futebol mineiro para o Brasil e para o mundo. Luxemburgo, da Tríplice Coroa. O mago estrategista seu Ênio Andrade. Estaria o uruguaio nesse grupo?
Ou neste? Ítalo Fratezzi “Bengala”, ídolo e artilheiro aposentado que tomou para si o posto de treinador, em meio à primeira grande crise do clube, para nos fazer superar – vivos – a década de 1930. Souza, ex-jogador que aceitou assumir o comando quando nem dinheiro o clube tinha para despesas básicas. Carlos Alberto Silva, “Tio” Orlando Fantoni e todos os demais treinadores dos duros e longos anos de penúria na década de 1980.
Qual oportunidade a geração de Eduardo Brock, Zé Ivaldo, Felipe Machado e Luvannor terá de ser lembrada para além da comparação pejorativa com os tempos idos de Jacinto, Toby e Bendelack? Alguma chance de estarem próximos do meu “Cruzeiro de todos os tempos” (Geraldo II, Nelinho, Perfumo, Luizinho e Nonato; Piazza, Douglas, Tostão; Dirceu Lopes, Niginho e Joãozinho) ou daquele “melhor Cruzeiro” que eu e Marcelo vimos jogar?
Essa dúvida se dissipou no meu testemunho do instante do orgulho de Pezzolano ao lado de seu filho. Foi um gatilho. Mudou, para sempre, a forma de eleger os escretes mais importantes da história. Se para montar o “time de todos os tempos” ou o “melhor Cruzeiro que vi jogar” sempre me arvorei nos campeões, agora também respeitarei e reverenciarei os dedicados e esforçados.
Pois, se de um lado, a história reservou ao Cruzeiro – o Time do Povo Mineiro – a sina de ser multicampeão, de outro, ofereceu a superação das dores e dificuldades para forjar o caráter do palestrino/cruzeirense.
Ainda não escalei o “meu melhor Cruzeiro das superações”. Talvez o faça numa nova resenha com meu amigo Marcelo Otoni, logo que se confirmar matematicamente a nossa volta, contra o Vasco (será?). Mas, certamente, o comandante desse meu novo escrete já está eleito: o pai do garotinho Manu, que num domingo à noite o levou para admirar um povo feliz apelidado de China Azul.