Jornal Estado de Minas

DA ARQUIBANCADA

Cruzeiro: está aberta a temporada da cornetagem


Afastar os fantasmas foi a última missão cumprida antes das férias merecidas dos jogadores, comissão técnica e da Nação Azul. Essa trinca campeã do Cruzeiro em 2022. Tudo feito com sintonia e amor. Insolvência do clube, Série B e memes, tudo isso foi para o espaço – e para a Série C – no último domingo. Ainda queremos a prisão da organização criminosa de 2019, mas podemos esperar passar esse período de descanso e alívio.





Mas e agora? Quem fica? Quem sai? Quais reforços virão? Já podemos falar das metas possíveis para as próximas temporadas? Sobre o que não adianta ficarmos nos iludindo para o curto prazo?

Para quem já cumpriu suas metas de 2023, sem precisar botar fogo em nada ou mesmo se chamuscar no fogo e rezar contra o Cuiabá, os próximos dias serão de tranquilidade para nos prepararmos para a volta à divisão principal, local de onde jamais deveríamos ter saído.

Não sou muito afeito a ser “especialista de botequim” sobre deficiências e qualidades técnicas de jogadores, variações de esquemas táticos ou bastidores administrativos do clube. Gosto mesmo é das histórias de amor pelo Cruzeiro. São elas a matéria-prima para meus rabiscos semanais.

Apesar disso, não sou capaz de me manter imune ao vírus da cornetagem. Dou as minhas escorregadas. Já critiquei goleiro, zagueiro, volante e até o Alex. Pedi a vinda de atacante rápido, lateral habilidoso e até a volta do Wellington Paulista. Já defendi o Ariel Cabral e o Mano Menezes. Mas, óbvia, rápida e sistematicamente me arrependo disso e penso, envergonhado: “Por que não gastei o meu tempo contando mais uma história linda de amor pelo Palestra?”.





Mesmo sabendo que me arrependerei ao me deparar com essa crônica publicada – e repleta de boleiragem, vou me permitir mais umas escorregadas, pois, afinal de contas, depois da história de amor escrita pelo Luvannor, o “Mestre da Alegria”, com os pés, as mãos e o coração no último domingo, nem vou ousar tentar contar algo bonito e emocionante. Farei o “jogo fácil”, o dos palpites e pitacos.

Começo pelo elenco. Sabemos, ele está cravado na nossa história para sempre como o mais importante em termos de superação. Porém, é notória também a sua incapacidade para enfrentar o desafio de uma divisão principal, cada vez mais milionária. Terminamos a temporada com um banco de reservas perto do sofrível e um time titular, quase todo, ainda bem longe de ter os números consideráveis para o embate com os times mais ricos do Brasil. Hoje, queiram ou não, futebol se mede pelo dinheiro.

Taticamente, tendo a não querer mudanças. A minha preocupação quanto a esse quesito não se trata de ser inovador, melhorar ou mudar a nossa filosofia de jogo, mas sim preservar o nosso comandante. Certamente, assim que terminar o última série pendente do Campeonato Brasileiro e também a Copa do Mundo, Paulo Pezzolano estará entre os três treinadores de qualquer lista dos grandes clubes brasileiros e de todas as seleções dos países vizinhos ao Brasil. Mantê-lo será o desafio mais difícil da próxima temporada.





Por fim, quanto às metas para o desempenho esportivo, um absurdo: não sonho com nenhum dos três títulos possíveis (Country Cup, Brasileirão e Copa Cruzeiro do Brasil). O primeiro porque vencê-lo serviria apenas para mascarar as falhas iniciais, não corrigi-las e nos iludirmos com o restante da temporada. As outras duas competições por simples “pé no chão”. Sejamos sinceros: quem contrata Neris para a zaga não quer fazer “mal” a ninguém, não é?

Para 2023, sonho mesmo é com o Mineirão (agora só nosso) sempre cheio e feliz, com nosso técnico mantido até o fim do ano e com a conquista de uma vaga em uma competição internacional em 2024. Quem viveu a conquista da Supercopa de 1991 sabe o quanto aquele título foi a ponte entre a superação e uma nova era de glórias.