Vem aí o primeiro dia do fim do nosso maior pesadelo. O Cruzeiro voltou para onde nunca sairia, caso não tivesse sido vítima de uma organização criminosa formada por conselheiros, dirigentes, empresários e jogadores do próprio clube, fazendo com que houvesse uma autossabotagem na instituição. Demorou, mas passou. Vamos entrar em campo para a temporada da retomada e isso me encanta, não só pela superação do maior drama já visto na história do futebol brasileiro, mas também pela beleza dos reencontros que estão por vir.
Esperar passar o pesadelo ou a incerteza de um final feliz, nunca é uma tarefa mediana para quem ter certeza do seu amor. A espera é passar lentamente por sentimentos e momentos dramáticos, na maioria das vezes, silenciosos e solitários. A pandemia, por exemplo, nos tirou a possibilidade de acalentar o nosso sofrido e combalido time de 2020. Ver o estádio fechado, vazio e palco de derrotas que soavam como mensagens de retrocesso, era como se 90 minutos durassem 10, 20, 23 anos de espera.
Quantas vezes pensamos: “agora vai!” E a realidade era outra. Ainda não era a hora certa. Faltava dinheiro, organização, qualidade, oportunidade e principalmente, confiança para encarar tudo de peito aberto. A cada “quase”, voltávamos à angústia da espera.
Mas quando tudo parecia fadado a um fim drástico, algo surpreendente e impensável aconteceu. Confesso, devoto da paixão e da poesia do futebol (e da vida) como sendo minhas maiores joias, a solução quase milagrosa do final de 2021 não foi a mais agradável para mim. Nunca morri de amores pelas famigeradas Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) e tampouco pela mercantilização das paixões, mas em muitos casos essas rupturas e alternâncias radicais são a única forma de nos tirar da inércia, do destino reservado ao marasmo ou da falência das esperanças.
A SAF no Cruzeiro foi providencial para nos organizarmos racionalmente para transformar em oceano a gotinha de coragem guardada pelos cruzeirenses que – sem saber - jamais abandonaram o amor. Um amor inexplicável!
Nascida da lágrima, nessa espera, a gotinha escorreu até os nossos lábios, onde um sorriso a esperava. O reencontro com a nossa história está próximo de ser celebrado alegremente dentro das quatro linhas, quando a bola rolar pela primeira vez nesse 2023.
A peleja inaugural da Country Cup, contra a Patrocinense, no próximo sábado, será histórica do ponto de vista simbólico da nossa volta ao posto de ser uma das melhores equipes do futebol brasileiro da atualidade. Ao contrário dos três anos anteriores, onde a disputa desse Campeonato Mineiro tinha um significado de afirmação, agora, podemos voltar a trata-lo meramente como um tempo para testar o esquema tático, o plantel de novos contratados e perceber as fraquezas ainda existentes no time dito titular a tempo de corrigi-las. Tudo isso para entrarmos no Brasileirão com o “plano de voo” ajustado, com a tripulação correta e tendo a confiança para transformar sonhos - utópicos no passado - em realidade novamente.
Precisava ser dessa maneira sofrida e dolorosa? Não, mas, agora, isso não tem a menor importância. Fato é que o pesadelo acabou. A longa espera cessou. O amor das mãos dadas entre nós, apaixonados, e o Cruzeiro está prestes a se tornar delícias corriqueiras. Que venha um 2023 para celebrar a mais inexplicável história de amor desse mundo! Nós merecemos. Estava escrito nas estrelas.