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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Para quem foi o recado de Pezzolano?

Esse plantel não será o mesmo quando vier o Brasileirão - muitos Davós, Formigas e Ciprianos serão dispensados e, outros, contratados


01/02/2023 04:00 - atualizado 01/02/2023 09:20

Jogadores do Cruzeiro disputam bolo com um do Athletic
Cruzeiro encontrou dificuldades diante do Athletic, pela segunda rodada do Estadual. Jogo terminou empatado por 1 a 1, em pleno Independência (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press )


Por trás de toda declaração racional em meio a um esporte movido pela subjetividade da paixão, existe uma mensagem subliminar. Mesmo no futebol mercantilizado das SAFs, das nebulosas bolsas de apostas – verdadeiros paraísos para a lavagem de dinheiro – e dos orçamentos astronômicos dos clubes de ponta, acreditar que o nosso amor estará acima da busca por lucros é uma ingenuidade. Por isso mesmo, é preciso analisar com profundidade os simbolismos da declaração dada pelo único craque do atual escrete, o técnico Paulo Pezzolano, após o pífio e suadíssimo empate contra o Athletic, no último sábado.

“O torcedor não entende o posicionamento que temos hoje. A folha salarial do Cruzeiro não é das melhores. Então, temos de utilizar o que temos. Vamos passar por momentos duros. (Enfrentar o América, time da Série A) É bom para ver se já estamos adaptados ao que pode acontecer. Eu sei que é duro. E como eu falo sempre: o Cruzeiro está preparado, historicamente, para ser campeão de tudo, mas este ano, não vai ver isso. Parece desculpa, mas é a realidade. Hoje temos de fazer o melhor possível para tentar entrar em uma copa internacional”, disse Pezzolano.

Primeiro ponto: não existe jogo duplo nessa declaração. Ao contrário, o uruguaio já deu demonstrações claras de absoluto respeito à instituição Cruzeiro. Mas essa não foi uma mera entrevista de pós-jogo, onde, muitas vezes, se busca desviar o foco de uma atuação ruim para motivar a torcida para a próxima rodada. É preciso analisá-la dentro de um contexto que pode ser preocupante a médio prazo.

Uma primeira constatação para ampliar nossa análise crítica. Pezzolano veio como incógnita. Em um ano de Cruzeiro, mudou de patamar. A conquista da Série B com sobras, baile e primor tático o alçou à posição de “bola da vez” entre os treinadores emergentes da América do Sul. Hoje, ele já figura em todas as listas como opção pronta para comandar seleções do continente, inclusive, a de seu próprio país, o Uruguai.

Além disso, assim como ocorreu no início desta temporada com o argentino Vojvoda, treinador do Fortaleza, Pezzolano será favorito para assumir qualquer clube brasileiro que, porventura, venha a demitir seu atual comandante frente a um início desastroso de estadual, Libertadores ou Brasileirão. O staff da SAF Cruzeiro e o próprio Pezzolano sabem disso.

Coloquemos a lupa em um trecho de sua fala: “A folha salarial do Cruzeiro não é das melhores. Então, temos de utilizar o que temos.” Pela primeira vez, nosso treinador dá essa declaração de forma contundente. Ela vem após o primeiro revés – o empate melancólico em casa, expondo claramente a baixa qualidade técnica de alguns titulares, combinado à recente série de fracasso em negociações com possíveis reforços solicitados ou avalizados por Pezzolano.

O meia Wellington Rato (Atlético Goianense), o zagueiro Valdez (América do México), os volantes Almendra (Boca Juniors), Romero (Independiente) e até mesmo refugos do Corinthians (o zagueiro Raul Gustavo) e do Athletico Paranaense (o volante Christian) estiveram próximos e falaram “não”. Em todas essas situações ficou claro que o tempo de trocar a melhor oferta financeira pelo “jogar no time do Ronaldo Fenômeno” não vai colar para atletas de nível Série A.

Sabemos que a Country Cup é tempo de testes. Esse plantel não será o mesmo quando vier o Brasileirão – muitos Davós, Formigas e Ciprianos serão dispensados e, outros, contratados. Mas mesmo que não tenha sido intenção do uruguaio, sua entrevista foi o primeiro alerta quanto a uma realidade ruim que pode vir a médio prazo.

Este é o ano da consolidação da carreira de Paulo Pezzolano. Fracassar com o Cruzeiro na temporada 2023 pode significar um passo atrás, um retorno ao status de incógnita, quando, na verdade, ele está com os dois pés fincados na condição de “opção 1” para os demais clubes e para as seleções sul-americanas. Que a SAF Cruzeiro não subestime esse recado.

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