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Estado de Minas DA ARQUIBANCADA

Um tropeço indigesto que pode trazer lições (aos humildes)

"Pezzolano, contra o Atlético de Lourdes e sua tropa milionária do Brasil Miséria, mostrou profissionalismo, mesmo contrariado com as peças que lhe entregaram"


15/02/2023 04:00

Rafael Cabral, goleiro do Cruzeiro
Um dos destaques da vitoriosa campanha na Série B de 2022, goleiro Rafael Cabral recebeu críticas da torcida do Cruzeiro no clássico contra o Atlético (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)


Um empate daqueles de parar no estômago. Indigesto nas primeiras horas após tomarmos o gol de falta. Porém, com o passar dos dias, a lenta degustação nos proporcionou reflexões que, se encaradas com seriedade, podem nos levar a ensinamentos para o restante desta temporada que só se inicia. De forma deprimente, é verdade. Mas exatamente por estar só no início, nos dá a possibilidade de mudanças de rotas, estratégias, teimosias e, principalmente, da filosofia mercantilista da SAF que, até aqui, nos entregou um elenco temporariamente medíocre.

Há algumas semanas, venho analisando os recados dados pelo comandante Paulo Pezzolano, seja nas suas escalações, nas entrelinhas das entrevistas ou nas substituições. Para mim, por exemplo, não passou despercebido o fato de ele sacar exatamente três recém-contratados ainda no primeiro tempo da vergonhosa derrota para o Pouso Alegre.

Por outro lado, Pezzolano, contra o Atlético de Lourdes e sua tropa milionária do Brasil Miséria, demonstrou muito profissionalismo, mesmo contrariado com as peças que lhe entregaram para montar o plantel. Ao contrário das partidas anteriores, ele não inventou ou fez “testes”. Montou o time titular com o que de melhor (menos pior) possuía em mãos.

Também mostrou coerência ao voltar com o esquema tático utilizado durante toda a campanha do acesso em 2022, com três zagueiros e jogadas rápidas de transição. Deu certo durante quase toda a peleja. De um lado, passou tranquilidade por ver Pezzolano com o controle sobre os novos atletas, mas, de outro, também reforçou o temor quanto ao atual elenco: fraquíssimo para os desafios que virão em 2023.

Comecemos por nossas laterais. Não precisamos da peleja contra o time da Turma do Sapatênis para sabermos que com Gasolinas, Ciprianos e Formigas não iremos longe. Estamos tão carentes ao ponto do jovem Kaiki, recentemente reserva da Seleção Brasileira Sub-20, campeã sul-americana, se tornar quase unanimidade entre a torcida. Certamente, ele será a aposta para a lateral esquerda nas próximas partidas. Até para que, até o início do Brasileirão, Pezzolano dê o seu veredicto sobre se precisará urgentemente de um reforço de peso ou se Kaiki irá resolver essa sua dor-de-cabeça.

Já o nosso esforçado meio campo deu conta do recado contra o Atlético de Lourdes, que precisou partir para a pancadaria para nos segurar. Mas esse desempenho satisfatório se deveu muito mais pela organização tática e pela leitura de jogo imposta pelo comandante do que pela qualidade técnica individual de nossos jogadores. Nesse setor ainda temos de esperar a volta da maior aposta para 2003: Mateus Vital.

Nosso ataque, aos poucos, vai se encaixando. A jogada de Wesley, invertido pela direita, encontrando Bruno Rodrigues pela esquerda, num contra-ataque de extrema velocidade e sagacidade, mostra que eles têm qualidade para “segurar a peteca”. Já o alagoano Gilberto, se ainda convive com o jejum, para esse rabiscador, o seu desencantar é só questão de tempo. Será nosso goleador em 2023. Cravo!

Deixei por último a análise mais feita durante essas 48 horas pós-peleja contra o Atlético de Lourdes: o nosso guarda-metas, execrado pelo gol tomado no mesmo estádio onde nos salvou, há quase exato um ano, contra o Remo, pela Copa do Brasil.

Não tenho nenhuma ilusão em pensar Rafael Cabral como um dos grandes arqueiros do futebol brasileiro da atualidade. Porém, em meio a um time onde o setor defensivo está capengando e o meio de campo não passa de esforçado, é um pouco de exagero sentenciá-lo por esse início de temporada.

Temos um Monte Everest de problemas muito maiores para ajustar em nosso elenco para a temporada que só se inicia. Se precisasse elencar a prioridade de mudança, eu escolheria a necessidade da diretoria encarar o Cruzeiro não só com uma empresa que precisa parar de dar prejuízos financeiros aos seus acionistas. De recado em recado, se pode equilibrar a alimentação e reduzir as indigestões. Para ter humildade para iniciar essa nova dieta.

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