Por que o maior clube de futebol de Minas Gerais, o Cruzeiro Esporte Clube, ainda não é administrador do Mineirão, já que entre os três clubes profissionais de Belo Horizonte ele é o único que tem o interesse e a perspectiva de utilizar a médio e longo prazos esse espaço/bem público, criado – por lei estadual – para ser palco desse esporte? Será que os únicos caminhos são acabar com a Minas Arena ou insistir em negociar com a atual Turma do Sapatênis gestora da concessionária? Vejamos...
Quando da assinatura de contrato de Parceria Público Privada (PPP) para reforma e modernização do Mineirão, visando a Copa do Mundo de 2014, em todos os trechos existia uma premissa, um mandamento quase bíblico. Era inegociável que, após a conclusão da obra executada pelo consórcio formado pelas empreiteiras Construcap, Engesa e Hap, a gestão do Mineirão, obrigatoriamente, deveria ser compartilhada entre três partes interessadas: O Estado de Minas Gerais, a futura concessionária (hoje, leia-se Minas Arena) e os clubes profissionais do futebol de Belo Horizonte.
Para que isso não ficasse apenas na “boa intenção”, diversas medidas deveriam ser implementadas imediatamente. Uma delas vem sendo negligenciada por quase uma década: a constituição de um comitê formado por representantes das três partes interessadas. Ele deveria ser acionado e consultado – já que não era deliberativo – sobre todo e qualquer imbróglio que envolvesse uma ou mais partes, como é o caso hoje da queda de braço entre Cruzeiro e Minas Arena, iniciada em 2013, após um escândalo (chegaremos nele) abafado pela “aldeia” e pelo próprio governo.
Outro ponto importante para se entender o atual contexto. O terreno onde está o Mineirão pertence à União – via Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na década de 1960, ele foi cedido ao Estado de Minas Gerais com a finalidade de que ali fosse construído não um espaço para shows, mas sim dedicado “à prática do futebol”.
Hoje, o que se assiste é o desvirtuamento das duas premissas citadas (a gestão compartilhada e o uso pública do espaço). Por outro lado, os atuais gestores da Minas Arena estão sentados em cima de dois contratos obsoletos, porém, assinados pelo Governo do Estado (o da reforma e modernização) e pelo Cruzeiro (o de utilização do Mineirão).
A pressão da torcida terá uma resposta nos próximos dias. Ao final de abril deverá acontecer a primeira reunião do tal comitê que deveria existir há 10 anos. Vem com o cheirinho de “abafa”.
Já o segundo contrato deveria ter sido rompido em 2013, quando a Governadoria do Estado de Minas Gerais cedeu a um esquema de chantagem arquitetado por outra agremiação esportiva e, ilegalmente, fez com que a Minas Arena concedesse a ela benefícios que estava impedida de oferecer, inclusive, ao próprio Cruzeiro.
Uma luta por uma CPI da Minas Arena pode – e deve – ser mantida a ferro e fogo até que os direitos de clubes e torcedores (leia-se “população”) sejam cumpridos. Porém, fato é que os atuais gestores da Minas Arena irão se agarrar até o último inciso dos contratos assinados para não perderem seus privilégios.
Mas existe um ponto nessa história que tem passado quase despercebido e que pode provocar uma reviravolta surpreendente. Antes, uma reflexão: Quem realmente são os donos da Minas Arena? Quem define sua composição? Quem tem o poder de incluir ou retirar instituições ou profissionais da diretoria da Minas Arena?
Voltemos à reforma do Mineirão. Como dito antes, ela foi feita por um consórcio formado por três empreiteiras. Duas delas, minoritárias e mineiras (Hap e Engesa, que, inclusive, já faliu) e uma majoritária – com 60% do controle acionário: a paulista Construcap.
Essa gigante da construção civil e seu presidente, Roberto Capobianco, têm o poder de decidir quem comanda ou compõe a Minas Arena. Portanto, fica a dica aos gestores da SAF Cruzeiro: não gastem tempo brigando com a atual Turma da Minas Sapatênis Arena. Proponham à Construcap que o Cruzeiro seja a própria Minas Arena.