Que venha nosso familiar freguês gaúcho, o Grêmio, na competição nacional mais familiar para o Rei de Copas, o Cruzeiro.
O nosso próximo adversário pela Copa do Brasil não só faz parte como coadjuvante das glórias do nosso passado, como também é um personagem importante na construção do nosso presente. Foi exatamente no confronto contra o tricolor de Porto Alegre, ainda pela segunda rodada do Campeonato Brasileiro, que surgiu a sintonia entre time e arquibancada. Naquele majestoso e cantante 1 a 0, o cambaleante escrete celeste começava a se transformar em uma unida e alegre “família”.
Quando desembarcou no Aeroporto de Confins para assumir o comando técnico do Cruzeiro, ao final de março, o português Pedro Miguel Marques da Costa Felipe foi perguntado, ainda dentro do carro que o levava para a Toca da Raposa II, sobre seu apelido, Pepa.
Por todas as provocações – como sempre – preconceituosas da Turma do Sapatênis, ele foi questionado se lhe causava incômodo ser comparado à personagem homônima de um desenho animado infantil e se não seria preferível ser associado – por sua semelhança física - com o ator Vin Diesel, estrela da série de filmes de ação “Velozes e Furiosos”.
Com o seu característico sorriso estampado no rosto, educadamente, Pepa rechaçou a mudança. Por ele, todos poderiam continuar o comparado à doçura e à alegria da porquinha Peppa.
Agora, pouco mais de um mês depois, com o Cruzeiro classificado na Copa do Brasil e embalado no Brasileirão, é possível entender a escolha de Pepa, pois a sua equipe é exatamente alegre, confiante, leve e principalmente, otimista.
Isso fruto de sua psicologia no trato interno com os atletas, mas também por seu trabalho tático. Dentro de campo, temos um time organizado e extremamente fiel às orientações do patriarca da “família”.
Como Pepa gosta, os lados do campo são seguros defensivamente e ao mesmo tempo, acionados à exaustão nos ataques e contra-ataques. Não à toa, nossos dois laterais – William e Marlon – estão se tornando referência; Bruno Rodrigues voltou desequilibrar ao jogar pela extrema esquerda (Pepa percebeu rapidamente o erro de sua aposta em escalá-lo na direita) e até mesmo o fracasso de Wesley e Nikão na outra ponta, deixa potencializada a percepção do quanto aquela posição precisa estar bem ocupada, pois precisamos de variações ofensivas.
Também já começamos a enxergar a cristalização de uma espinha dorsal, da qual fazem parte até mesmo jogadores medianos, como Luciano Castán, Ramiro e Mateus Vital, mas que, com o otimismo repassado por Pepa, estão se reinventando e surpreendendo positivamente.
Gilberto continua (ainda bem!) ganhando crédito do treinador. E assim que solidificar a volta de seu comprovado faro de gol, ele terá tudo para ser a vértebra principal dessa espinha, pois tem como característica o dom pela liderança de uma “família”.
Não devemos nos iludir e tampouco parar de cobrar da diretoria da SAF Cruzeiro, pois o Campeonato Brasileiro é longo e demanda não só um time, mas sim, um elenco qualificado – o que ainda estamos longe de ter. Porém, um dos principais passos da caminhada de 2023 já foi dado. Temos as necessárias conexões técnico-time e time-torcida baseadas na nossa tradição, onde o elemento que une essas pontas é a alegria, o gostar de jogar futebol capaz de gerar otimismo. Mesmo porque, gostar de exaltar sofrimento, tão característico do lado cinzento da lagoa, não combina com um céu azul e repleto de estrelas.
Sigo encantado com Papai Pepa e me divertindo muito com o desenho bem animado que ele traçou para a nossa Família Cruzeiro.