Se o Mineirão é a nossa residência em Belo Horizonte, o Maracanã é a nossa casa de praia. Nosso quintal com vista para o Cristo Redentor. Nosso salão de festas para além dos limites das montanhas de Minas Gerais. Ao menos ao analisarmos sob a perspectiva dos seguidos espetáculos proporcionados por nós, cruzeirenses, nas arquibancadas do maior palco do futebol do mundo. Se em campo seremos visitantes, lá de cima seremos mandantes na importante peleja de logo mais contra o Fluminense.
O campeonato não se decide nessa noite quente do Rio de Janeiro, mas ela tem todo um simbolismo nesse nosso caminhar no Brasileirão. Uma verdadeira encruzilhada, onde o próximo passo pode nos confirmar a retomada do rumo em direção ao pelotão de frente da tabela ou, infelizmente, nos puxar a perna novamente – e talvez, definitivamente – para a ladeira da briga contra o Z4, atualmente aberto pelo Peixe, o Santos.
No estágio atual, estamos estacionados onde na política se costuma chamar de “em cima do muro”. No circo, é a corda bamba, onde caminha – cambaleante – o equilibrista. No futebol, o meio da tabela para os boleiros ou “intermediária” para os analistas de resultados calçados de sapatênis. Em suma, ocupamos na meiuca, a cinco pontos de distância para o Z4 – um olho no Peixe. Do outro lado, a seis pontos da pré-Libertadores, se algum brasileiro vencer o torneio continental nesse ano. Chegar a esse possível “G8”, seria o surpreendente pulo do gato, ou melhor, da Raposa.
O comandante Zé Ricardo não é um homem de títulos, mas tem em seu currículo o que necessitamos nesse instante: “pulos do gato” para conseguir arrancadas para as partes altas da tabela. Foi assim com o Vasco, o Flamengo e o Internacional. Foi pensando nisso que a SAF Cruzeiro o trouxe.
Seis pontos para o possível G8, teoricamente, seria uma distância pequena para se percorrer. Mas a análise não pode ser linear. Existem fatores para além das proporções e estatísticas. Um deles diz respeito ao momento do Brasileirão dentro do universo do calendário mundial do futebol. É importante salientar que nesse estágio das demais competições envolvendo os clubes brasileiros da Série A, ao contrário do oito primeiros meses do ano, a turma do alto da tabela começa a se dedicar com mais intensidade ao Brasileirão.
Fatores externos para desviar o foco estão em um funil. Por exemplo, dos dez clubes acima do Cruzeiro na tabela, apenas três ainda disputam a Copa do Brasil ou a Libertadores. No caso de São Paulo e Flamengo, esse dividir a atenção termina já na rodada seguinte, pois o campeão (aliviado) e o vice (em possível crise) estarão definidos e exclusivamente dedicados ao Brasileirão.
Na Libertadores, Internacional, Palmeiras e Fluminense ainda demoraram um tempo para saberem se terão de dar um gás extra no campeonato nacional ou se já esticam as atenções para o Mundial. Ao menos um deles – Fluminense ou Internacional – certamente estará exclusivamente dedicado ao Brasileirão já no início de outubro, já que se enfrentam em uma das semifinais.
Uma derrota para o Fluminense na noite de hoje colocará pressão sobre o psicológico do nosso escrete para o confronto seguinte, contra o América. Porque nos deixaria bem distantes do rumo do G8 e estacionados, com a possibilidade arrancadas do Peixe e seus seguidores de Z4.
Seja qual for o resultado, hoje, não vamos gritar “é campeão”, não iremos chorar ou vaiar. Mas o nosso empurrar o escrete, com gritos que sempre calam a torcida adversária no Maracanã, uma tradição da Nação Azul, serão fundamentais para ajudar a definir o nosso rumo nessa encruzilhada.