O que seria apenas uma exposição virou uma verdadeira Dança das cadeiras. Artistas cujas obras integravam a mostra aberta na semana passada, no Ponteio Lar Shopping, estão se mobilizando para trocar os corredores do mall pelas dependências do Grande Hotel Ronaldo Fraga.
A debandada é uma reação ao fato de a cadeira José Pinto do Rego, de Breno Barbosa, com a imagem de um homem nu, ter sido retirada da mostra. “O Ponteio é um lugar família. Para que isso?”, diz o gerente de marketing do shopping, Luiz Sternick, sobre a decisão de eliminar a peça da exposição.
“O shopping é família, com média de 5.500 pessoas/dia. Achei melhor não expor a peça”, afirma Sternick, que é também artista plástico. A decisão gerou reações críticas, como a do estilista Ronaldo Fraga, que se prontificou a receber a obra, a partir desta sexta-feira (6), no Grande Hotel que leva seu nome, no bairro Funcionários.
“Nem a arte nem muito menos a criação podem ser censuradas, em hipótese alguma.
Para o estilista, "a censura anda rondando pelas beiradas" e esses gestos são exemplo do "momento muito perigoso que vivemos". “Hoje estão censurando uma cadeira; amanhã, uma peça de teatro; um show do lado de lá; um livro, o direcionamento do governo brasileiro em relação ao que pode e não pode no cinema brasileiro. Quando assustarmos, a censura estará aí, de forma que não pensávamos que ela fosse voltar. É muito sério”, pondera Fraga.
O estilista afirma que vários outros artistas escalados na mostra estão seguindo o mesmo caminho da obra de Breno Barbosa e levando suas peças para o Grande Hotel. Marcus Paschoalin, autor de Fluido, é um dos que confirmam a retirada de sua cadeira do shopping.
“Foi uma decisão péssima retirar a cadeira (de Breno Barbosa). Não é nada afrontoso ou pornográfico. É arte. Você vai para a Itália ver estátuas nuas pode, mas aqui não”, questiona o artista.
Enquanto a cadeira não segue para o Grande Hotel, ela está guardada na galeria de arte Carminha Macedo, no próprio Ponteio Lar Shopping.
Curador da mostra, o artista plástico Hogenério disse compreender a posição do Ponteio, embora afirme que o artista não pode ser censurado. Até a publicação deste texto, o Estado de Minas ainda não havia conseguido ouvir Breno Barbosa sobre o episódio.
.