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'Na Capela Sistina pode, no Ponteio não', diz autor de obra censurada

Autor de cadeira com homem nu, Breno Barbosa diz que exclusão da obra 'José Pinto do Rego' de mostra promovida pelo shopping é 'atitude retrógrada'


postado em 06/09/2019 04:00 / atualizado em 05/09/2019 18:23

(foto: Paulo Vasconcelos/divulgação)
(foto: Paulo Vasconcelos/divulgação)


Há baixas na exposição A dança das cadeiras, no Ponteio Lar Shopping. Depois da exclusão da peça José Pinto do Rego, assinada por Breno Barbosa, que representa um homem nu, o curador da mostra, Hogenério, confirmou que alguns artistas vão se retirar do evento em apoio ao que consideram censura do shopping. Ele não citou os nomes desses autores.

A exclusão foi decidida por Luiz Sternick, gerente de Marketing do Ponteio. Em entrevista ao Portal Uai, ele afirmou que o shopping “é família” e atrai, em média, 5, 5 mil pessoas por dia. O estilista Ronaldo Fraga, solidário a Breno Barbosa, receberá a peça em seu Grande Hotel. Para lá deverão ser encaminhadas obras de outros desistentes, como a cadeira Fluido, de Marcos Paschoalim.

José Pinto do Rego (vinílica sobre tecido, de 2019) homenageia designers de móveis como Jorge Zalsupin e Joaquim Tenreiro. “É uma brincadeira irônica com o glamour e o luxo, e, sobretudo, uma espetada na hipocrisia social, no falso moralismo e no desejo obsceno por poder, tão exaltados atualmente”, diz Breno.


(foto: Reprodução/Instagram)
(foto: Reprodução/Instagram)


COM A PALAVRA

BRENO BARBOSA/Artista plástico

Em algum momento, o senhor pensou que sua obra fosse causar polêmica a ponto de ser retirada da mostra A dança das cadeiras?
Quando tive a ideia de trabalhar a cadeira já ocupada por um homem nu, o título seria Só para macho, dando uma sacudida bem-humorada no machismo e na hipocrisia social. Nem de longe pensei na possibilidade de censura. Quando terminei o trabalho, dois dias antes da entrega, os poucos que o conheceram se divertiram tanto que achei o lado humorado mais interessante, pois o lado crítico estava óbvio. Então, troquei o título para Cadeira José Pinto do Rego. Apenas um amigo levantou a possibilidade de censura, mas eu não quis acreditar, pois pensei que um espaço que vende design e inovação não teria atitude tão retrógrada.

Como o senhor vê a questão do nu na arte?
Na Capela Sistina pode, no Shopping Ponteio não. A questão não está na nudez representada na minha pintura ou em tantas outras obras de arte. O problema está no olhar deturpado e perverso de uma sociedade hipócrita e apavorada, que supervaloriza o sexo em detrimento do amor, que se cega para a imoralidade da guerra, da corrupção, da falta de ética e de solidariedade. Ela continua sua vida zumbi, julgando por aparências e competindo por poder, além de envenenar suas crianças com o medo do próprio corpo, de seus desejos e de suas imperfeições.

Como o senhor se sentiu ao ver seu trabalho excluído da mostra?
Estou tranquilo comigo e com meu trabalho, ainda mais seguro dele. A censura me atinge é na constatação de que realmente vivemos um momento sombrio, reflexo do atual quadro político-social. Muito me entristece sentir que estamos engatinhando, perdidos em nossa evolução de consciência do humano, do reconhecimento de valores que de fato motivam a viver.

O fato de a mostra estar em um shopping influiu? Ou haveria problemas em outro lugar?
O fato de essa censura ter ocorrido em um shopping apenas dá aos autores do ato a falsa e rasa justificativa em nome de uma moral e bons costumes doentes, agonizantes e intoxicados de hipocrisia, poder e dinheiro.

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