Diário da quarentena
O abraço universal
Fabio Mechetti
Maestro e diretor artístico da
Filarmônica de Minas Gerais
É difícil dizer qual atividade foi a mais afetada pelos efeitos da pandemia que nos aflige. Os impactos econômicos e sociais têm sido devastadores em todas as esferas. Mas na área cultural, principalmente nas artes performáticas, os desafios vão além da paralisação das atividades normais e da falta de definição sobre quando poderemos reiniciá-las. É marcante também a constatação de que aquilo que fazemos é justamente o contrário daquilo que nos está sendo pedido no momento: o distanciamento social.
Nós, músicos, somos, talvez, o maior canal para a aproximação social, para o desfrute harmonioso do convívio entre pessoas, independentemente de suas posições políticas, camadas sociais e origens raciais,
que se unem, nas palavras de Schiller e na música da Nona de Beethoven, num “abraço universal”.
Deixar de compartilhar esta força transformadora que a música tem na experiência humana vem sendo uma enorme frustração e um grande desafio. Mas sabemos, ao menos, que por mais desalentador que o momento seja, estaremos em breve mostrando nossa relevância, talvez até de maneira mais marcante.
Assim, a Filarmônica vem mostrando a riqueza dos talentos que a compõem com a realização de atividades digitais que suprem, na medida do possível, a carência natural que as pessoas vêm encontrando diante do isolamento imposto pela pandemia.
São apresentações de vídeos de nossos músicos feitos dentro de suas próprias casas, transmissões de concertos de temporadas passadas, podcasts sobre os mais variados assuntos que buscam expandir a discussão de temas diversos, que vão além de nossas ações normais. Além disso, nossos integrantes colaboram no processo de formação e de apreciação da boa música e oferecem aulas virtuais a jovens alunos de música.
Esperamos que, a partir de agosto, possamos gradualmente voltar a oferecer uma programação desde a Sala Minas Gerais que mantenha o relacionamento de nossos músicos com o público mineiro. Está planejada uma maratona com obras de Beethoven, que vão de duos e trios a sinfonias, esperando que ainda seja possível celebrar os 250 anos deste grande gênio da música universal.
Não vemos a hora de voltar a dividir com o público mineiro a alegria proporcionada pela música e celebrar aquilo que de melhor temos enquanto manifestação humana.