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Fabrício Carpinejar defende a higiene das ideias

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Tomara que o hábito da higiene passe das mãos para as ideias.

Que possamos lavar também os pensamentos na hora de chegar em casa, desinfetar as preocupações com álcool em gel, ensaboar as frutas dos olhos, tomar um banho de gentileza antes de falar com quem amamos.



Que as conversas não se tornem mais atropeladas, mais aos gritos e ordens, contaminadas pelas neuroses e pelas obsessões.

Que não perguntemos onde estão as nossas coisas, que procuremos antes de reclamar.

Que não deixemos a rua entrar no tapete da sala, que tiremos os sapatos para reaver a sensibilidade dos pés.

Que saibamos diferenciar o que é problema do emprego e o que é impasse da relação, que isolemos as frustrações, que não misturemos o humor da cabeça e do coração.

Que percamos o mesmo tempo do asseio físico com a limpeza dos afetos.

Que usemos igual paciência empregada na superfície para mandar a tensão embora do nosso interior.

Que coloquemos máscaras no momento da grosseria, para não derramar palavras impróprias e adoecidas.



Que mantenhamos meio metro de distância em crises de raiva e angústia, aprendendo a ficar sozinhos, até nos desintoxicar do egoísmo.

Que sejamos justos ao abrir a boca e ao silenciar, não repassando dúvidas como certezas, medos como verdades, impressões como fatos consumados.

Que perguntemos mais em vez de concluir apressadamente, tendo apenas parte das informações e a nossa versão da história.

Que também guardemos boas notícias para contar, separando piadas, causos engraçados, observações espirituosas de nossos contatos.

Que os elogios façam frente ao desgaste das críticas.

Que cultivemos plantas, temperos, que cuidemos dos nossos animais de estimação, que a vida permaneça próxima, pulsante, aberta às surpresas do cheiro e do carinho.

Que recuemos ao atacar, ao criar culpa, ao encontrar responsáveis pelas nossas próprias distrações e erros.

Que respiremos devagar, transformando o nosso ar em melodia, em partitura, em delicada brisa.