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Estado de Minas COLUNA HIT

A estranha mania de ter fé na vida

Um dos principais produtores de eventos de BH, Paulo Rossi escreve, no 'Diário da quarentena', que não abre mão da esperança, apesar do futuro incerto


07/10/2020 04:00


Como todos, fui pego de surpresa pela avalanche de acontecimentos e mudanças – entre elas, algumas muito radicais para nossas vidas – com a chegada da COVID-19. Essa doença, além do sofrimento físico, trouxe muito desconforto, insegurança, medo e problemas graves para nós e para o nosso país, já tão combalido. O sofrimento fica ainda maior quando sabemos que ele é mundial.

Tentei me organizar. Adotei os protocolos e me mantive informado o mais que pude. Me concentrei para não entrar em pânico e para ajudar familiares e amigos. Minha rotina de vida foi completamente alterada, com a inclusão de mais afazeres domésticos do que os que já desempenhava em casa. Sem auxiliares, mais esse trabalho passou a ser de nossa responsabilidade. Houve adaptações de toda natureza.

Li muito e continuo lendo. Primo Levi, Philip Roth, Susan Sontag, Benjamin Moss e Clarice Lispector, entre outros, me vêm fazendo companhia diária. Minha esposa está comigo desde o início, e nossos dois filhos que moram fora chegaram em momentos diferentes para ficar conosco. Ambos ainda permanecem aqui, um deles trabalhando de forma remota. Ontem, chegou minha nora americana.

Outra surpresa, mas essa muito bem-vinda, foi o Diário da quarentena publicado pelo Helvécio, que passei a ler diariamente. Sacada genial para substituir o cotidiano da cobertura jornalística feita por ele.

Cozinhei e vou cozinhar muito ainda. Tive e estou tendo muitos momentos de introspecção. Muitas pessoas os chamariam de momentos de meditação. O nome não importa, só sei que são pensamentos que afloram em mim trazendo paz ou desassossego, assim como a quantidade absurda de sonhos que passei a ter desde meados de março, depois de me confinar em minha chácara. Fiz muito mais uso do meu WhatsApp e do meu Instagram. Mantive os amigos perto de mim usando esses artifícios.

Este vírus que virou pandemia trouxe para todos uma quantidade enorme de palavras e expressões não usuais: lockdown, confinamento, cloroquina, isolamento social, hospital de campanha, fique em casa, use máscara, lave as mãos, álcool em gel, pandemia e mais centenas de expressões que povoam a nossa fala, recheando nossas conversas. Elas deverão ser dissipadas com a chegada da vacina. E vão se tornar lembranças destes tempos terríveis.

Não tem sido fácil! Muito difícil para muitos que perderam familiares, perderam empregos, perderam a liberdade, o convívio com pessoas queridas e, principalmente, perderam as esperanças.

ISOLAMENTO SOCIAL. Esta situação imposta pelos protocolos pós-vírus significou a interrupção drástica de minha atividade profissional e de muitos colegas, além do sem-número de fornecedores e colaboradores.

Sou produtor de eventos, trabalho diretamente com a realização e a materialização de aspirações e sonhos das pessoas. As festas, celebrações e comemorações ficaram para trás e nas lembranças de quem as viu, produziu e participou delas. A realização de eventos se pauta pelo acúmulo e proximidade de pessoas; abraços e beijos fazem parte desses momentos, assim como brindes e o prazer de dançar numa pista “bombando de gente”. O futuro é totalmente incerto, ainda não há luz no fim do túnel.

Tenho esperanças de que o prazer e a possibilidade da celebração retornem. Esperanças que são muito longínquas, mas as tenho. A vida sem isso fica sem cor.

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