Gustavo Greco
Designer
Quase seis meses se passaram desde o dia em que a ficha caiu e fomos pra casa. Seis meses de opostos. Do tempo que passava ora depressa demais, ora se arrastava. Da distância que aproximava. Eu nunca romantizei a pandemia, já disse isso por aqui. Não acredito que todos sairão pessoas melhores. Mas tivemos um tempo, antes tido como inconcebível, para parar e pensar. Pensar naquilo que realmente faz sentido.
O que achei mais interessante nesse tempo foi o fato de, ao irmos para casa, começarmos a enxergar melhor a rua. E assimilarmos as contradições do nosso país. Nunca se viram tantas ações sociais, de causas as mais variadas. Mas causas essas que sempre estiveram ali, diante dos nossos narizes, agora tampados por máscaras. Enxergamos as pessoas que passavam por invisíveis, e vozes historicamente caladas se fizeram ouvir em tempos de pandemia.
O mundo globalizado, crises ambientais, o digital indiscutivelmente mais imperativo, mudanças intensas nos cenários da comunicação, da economia, da política e da cultura. Um país desgovernado, no sentido literal da palavra. Com base nisso, questionei muito o lugar da minha profissão. Entendo ser cada vez mais urgente discutir o papel social do design.
É histórico o poder do design como agente de superação de crises, tanto sociais quanto econômicas. Nunca a maneira pela qual resolvemos problemas de grande complexidade foi tão importante para que as marcas deixassem claro a que vieram: focadas no ser humano, sempre.
Vivemos em uma realidade progressivamente mais imagética. Por isso, o designer deve ter consciência do tamanho da responsabilidade de colocar no mundo mais um projeto visual. É impossível dissociar um projeto dos valores e dos conceitos que o originaram, das ideologias por trás dele. O design nunca é neutro. Considerando que fazemos, na maioria das vezes, trabalhos para o outro, o design terá sempre fundamentalmente um papel social e político.
Este tempo também me fez enxergar uma pergunta que as marcas para as quais trabalhamos devem sempre se fazer: Qual é o meu lugar no mundo? Entendi que o meu é exercer e promover o poder do design – o poder de conexão, de construir e materializar discursos. Compreender, cada vez mais, a transversalidade da profissão, a magia da interdisciplinaridade e a multiplicidade de um país de dimensões continentais e suas copiosas heranças culturais, influências, contrastes e contradições. É preciso nos responsabilizarmos ao ocuparmos lugares de privilégio, de como podemos contribuir para diminuir essas diferenças.
Saio deste tempo (calma, a pandemia ainda não acabou) com a certeza de que, por meio do nosso ofício, somos capazes de construir um amanhã melhor e para todos.